terça-feira, 22 de julho de 2008

Poema, lista, citação e um tipo que se engana

1. Poema: Umberto Saba (1883-1957)


TRIESTE

Ho attraversata tutta la cittá. .

Poi ho salita un'erta,

popolosa in principio, in là deserta,

chiusa da un muricciolo:

un cantuccio in cui solo

siedo; e mi pare che dove esso termina

termini la città.



Trieste ha una scontrosa

grazia. Se piace,

è como un ragazzaccio aspro e vorace,

con gli occhi azzuri e mani troppo grandi

per regalare un fiore;

come un amore

con gelosia.

Da quest'erta ogni chiesa, ogni sua via

scopro, se mena all'ingombrata spiaggia,

o alla collina cui, sulla sassosa

cima, una casa, l'ultima, s'aggrappa.

Intorno

circola ad ogni cosa

un'aria strana, un'aria tormentosa,

l'aria natia.



La mia città che in ogni parte è viva,

ha il cantuccio a me fatto, alla mia vita

pensosa e schiva.



TRIESTE (tradução atamancada e à primeira vista deste vosso amigo)



Atravessei a cidade toda.

Depois ingressei numa pequena rua,

cheia de gente no início, ao fundo vazia,

cercada por um pequeno muro:

com um pequeno banco onde me sento;

e parece-me que onde ele termina

acaba também a cidade.



Trieste tem um encanto contraditório

É agradável

é como um pequeno rapaz áspero e voraz,

com olhos azuis e as mãos demasiado grandes

para oferecer uma flor;

como um amor

ciumento.

Desta pequena rua, descubro cada igreja, cada rua

que leva à velha praia

ou à colina, em cuja encosta acima

a última casa se agarra.

À volta

de tudo circula

um vento estranho, um vento de tormenta,

o vento pátrio.



A minha cidade que por todo o lado palpita de vida,

construiu par mim um canto, um canto para a minha vida

reflexiva e esquiva.




2. Lista: as dez melhores cervejas portuguesas

Super Bock: é como a nossa mãe: é de longe a melhor, há que mostrar respeito... (está sempre em guerra com a Sagres - ver abaixo). Atenção: confiamos nela e está acima de qualquer suspeita...
Cristal: é como a mulher do nosso amigo: (quase) nunca ninguém provou, mas não se pode negar que é bem boa...
Cintra: é igual à nossa ex-namorada. Prometeu muito, mas ficou-se. Nem todos gostam dela, mas faz o seu papel e de vez em quando lembramo-nos dela...
Coral: é como a supermodelo: nunca experimentaram, mas todos querem vir a provar... um dia.
Bohemia: é como a cunhada: é diferente e só por isso vale a pena experimentar...
Imperial: é como a mulher feia: se tiver de ser, no desespero e com uns copos em cima, também marcha...
Abadia: é igual à nossa vizinha: estamos fartos de a ver em todo o lado mas nunca experimentamos...
Topázio: é igualzinha à nossa primeira namorada: foi boa naquele tempo (que saudade!), mas nem sabemos se ainda existe...
Tagus: é igual à sogra: todos a evitam, amarga que se farta e só dá dores de cabeça...
E por fim, a Sagres: é como a nossa mulher. Já experimentamos tantas vezes. Está sempre presente. Às vezes até sabe bem, mas não tem melhorado com o tempo. Acha sempre que é a primeira. E a verdade é que é...

Cervejas com sabores a fruta, tangos, panachês e quejandos: É como a nossa amante: é doce e mata a sede, mas tem de ser só de vez em quando. De resto, prometemos, prometemos, prometemos que vamos pedi-la... mas é o pedes... fica sempre para a próxima... Da próxima é que é...
Mini: são como as 'tias' profissionais: só por vício, hábito ou para fazer companhia aos amigos... No final, sabe a pouco...
Preta: é como a nossa prima: primeiro nem pensamos nisso: um dia experimentamos e não é mau de todo, pois não?

Mas a verdade é que as melhores que já provei foram estrangeiras: uma Foster´s (australiana); uma Guiness na Escócia, e montes de Malz Beer (brasileira) no Rio de Janeiro - todos deviam experimentar um dia... Deixa um docinho tão agradável no palato. Apetece sempre outra...

3. Citação

« Uma noite dos meus quinze anos dei comigo a chorar. Não sei já qual foi o caminho que me conduziu às lágrimas, tudo vai tão longe, perdido na fita branca do passado. Só me recordo de que o pai me ouviu e se levantou. Sentou-se ao de leve na borda da minha cama, pôs-se a acariciar-me os cabelos, quis saber o que eu tinha.
- Estou só, pai. Não é mais nada. Dei porque estava só e isso pareceu-me... Que parvoíce, não é? Estou agora só! E tu então?
Tentei rir a tapar-me, já arrependida da franqueza, mas ele não colaborou e isso salvou-o da raiva que eu havia de lhe ter na manhã segiuinte. Não se riu e a sua voz, quando veio, era muito doce, quase triste.
- Também deste por isso - disse brandamente.- Também deste por isso. Há gente que vive setenta e oitenta anos, até mais, sem nunca se dar conta. Tu aos quinze... Todos estamos sozinhos, Mariana. Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana! E ninguém vai fazer nada por nós. Ninguém pode. Ninguém queria, se pudesse. Nem uma esperança. (...)
In, «Tanta Gente, Mariana», de Maria Judite de Carvalho

4. Não posso deixar de sentir simpatia por um tipo que se engana tantas vezes...

3 comentários:

©arloslemos disse...

Passo o comentário ao poema, vou directo à melhor lista publicada numa página amarela deste blogue. Uma pérola a conservar com uma cervejinha a acompanhar. Fantastic! Citações... sim gosto de citações... a cabeça mexe, o espírito espreguiça-se. "Um pequeno engano de um homem, uma desgraça para a humanidade!"

Óscar disse...

Bravo Pág.! Não sei se foi da cerveja, mas a verdade é que estiveste verdadeiramente inspirado!

K disse...

18 em 20 para as cervejas