quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

BEYOND THE GRAVE

We will survive beyond the grave
And as we sleep we will be saved
Life, in its essence will endure
Whilst still on Earth we can be sure
All our endeavours surely must return to dust

(Barclay James Harvest-Time Honoured Ghosts)

Desejo aos optimistas e especialmente aos pessimistas um
EXCELENTE
2009

UM BOM 2009 PARA TODOS!!!

Gravura de Rufino Tamayo. Fui buscá-la aqui .




Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

Freddie Hubbard - 1938/2008

Aos vinte anos era já um trompetista respeitado no meio musical.
Foi membro dos Jazz Messengers de Art Blakey substituindo Lee Morgan.
Freddie Hubbard com Lee Morgan e Donald Bird formaram triade maior de trompetistas hard bop.
Participou no disco "Out to lunch" do também vanguardista Eric Dolphy, e também com Ornette Coleman na famosa e histórica gravação de Free Jazz.
Nos anos 90 deixa as gravações por problemas de saúde.




segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

BARBARA DENNERLEIN

Vale a pena ouver com atenção

Há metafísica bastante em não pensar em nada



Noites de Dezembro, brilhantes de estrelas e de luar. Cenário perfeito para, entre uns cigarros fumados em boa companhia, relembrar alguns dos poemas lidos em adolescência e que permaneceram como referências até aos dias de hoje. Deixo aqui um.

Uma sugestão: carregar um dos temas musicais do youtube postos pelo Labrosca para ouvir enquanto se lê o poema

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

O poema é de Alberto Caeiro e a imagem é daqui

sábado, 27 de dezembro de 2008

MAIS UMA HOMENAGEM AO SEXO FORTE

Hammond B3

Sonoridade inconfundível.
JÁ DECIDI O MEU VOTO PARA 2009
Bettie Page
Ou a minha homenagem pela sua morte no passado dia 11.




PRENDA DE FIM DE ANO

Aviso: se não rolarem lágrimas, então estás mais que morto
Piazzola e Yo Yo Ma
Duetos prováveis
ALMA LATINO-AMERICANA
http://br.youtube.com/watch?v=JKCwcCMAnxg&feature=related#
ou uma outra forma de dizer que ninguém é obrigado a ser feliz.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Amy Winehouse: a voz para além da personagem

Muito se tem dito e escrito sobre a controversa cantora inglesa: escândalos, droga, álcool,... o voyerismo jornalístico tem feito, como sempre, o seu trabalho bem feito. Todavia, para além da cocaína, do ecstasy, do álcool ou de alguns comportamentos menos ortodoxos, subsiste uma voz e uma capacidade de interpretação muito acima da média. Winehouse não é um daqueles exemplos de cantoras pop que tão rapidamente atingem notoriedade como se eclipsam, ela é uma verdadeira diva da música de raiz urbana.
Sugiro, por conseguinte, que nos foquemos nos temas que proponho a seguir:

Me and Mr Jones:


(There Is) No Greater Love :

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Prenda

Como se pode abaixo, não é preciso dinheiro para dar boas prendas aos amigos. Basta saber do que eles gostam... e precisam!
Se esta sair ao vivo de um dos embrulhos, já sabem quem vos ofereceu:

Público, privado e íntimo: exposição de escultura



A exposição "Público, privado e íntimo", da amiga Margarida Santos, encontra-se aberta ao público na Casa Museu Teixeira Lopes (V.N. Gaia) até ao dia 31 de Dezembro.
Vale a pena visitar.

Horário:
3ª a Sábado das 9h às 12h e das 14h às 17h
Domingos e feriados das 10h às 12h e das 14h às 17h

A TODOS UM BOM NATAAAL, A TODOS UM BOM NATAAAAL,...


A imagem é - daqui

25 de Dezembro 0000

Nasceu o menino Jesus Cristo
O maior psicólogo da Humanidade. Esta nunca o percebeu inteiramente.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008



23 Dezembro 1967
Nasceu a menina Carla Bruni.
Conhecem ?

O Wiwichu

Numa formosa noite de Dezembro, lá em Havana, estava um casal de cubanos no molhe, olhando o mar, muito românticos, quando de repente, ele lhe diz:

- Amor, deixa-me tocar-te o wiwichu!
- Estás louco, meu amor, ainda é muito cedo para isso!
- Anda amor, não vês que é a ocasião perfeita, deixa-me tocar-te o wiwichu!
- Não, mas não quero!
- Deixa amor, é agora ou nunca, deixa que te toque o wiwichu...
- Bem, meu amor, só porque te amo muito...

Então ele agarra a guitarra e começa:
- Wiwichu a merry crismas, wiwichu a merry crismas, wiwichu a merry crismas, and a japy niu yirrrr!

Óscar assina uma entrada de leão... perdão, de águia!

Esta história é mais uma do Algarve. Desta vez férias da Páscoa. Local: Lagos, as usual. Já tínhamos ouvido falar do Zapata, um bar onde tinham ferido ou morto um tipo. Fomos (tanto quanto recordo pelo menos eu e o Óscar) até lá. Não que fossemos valentões, mas porque tinham dito que era o único bar com gente naquele Março.
Pensava que era um bar lúgubre, mas sai-nos um duplex todo catita, branquinho e tudo.
Miúdas, nada. Era quase tudo pica-chouriços nacionais ao balcão com a cervejola a arrefecer a mão.
Fomos para o andar de cima e vimos duas misses bem ajambradas com ar teutónico. Mas muito bem esgalhadas. Ficámos a ver em que paravam as modas. E vimos quasi boquiabertos que não havia dupla de pica-chouriços algarvios e quejandos que não aterrasse na mesa para meter conversa. Mas nem chegavam a sentar-se. E se se sentavam eram corridos com a pressa de um fósforo. De facto, as mädchens despachavam os rançosos com grande rapidez. E era um corropio de duplas a tentar.
Eu vendo como os profissionais eram despachados, olhei para o Óscar com ar de quem não tem qualquer hipótese, mas o Óscar, senhor de uma grande autoconfiança, não achou assim. Logo que a última dupla de pica-chouriços foi corrida, o Óscar, seguido por mim descrente, dirigiu-se para a mesa das duas raparigas e em inglês solta esta:
« - Já vi que hoje vocês estão muito concorridas e não vos queremos maçar como os outros. Vocês parecem muito interessantes. Fica, talvez, para amanhã?»
« - Não, não, claro que não aborrecem, sentem-se, por favor, estes tipos daqui são uns chatos e vocês parecem tão diferentes, podem sentar-se», responderam solícitas e simpáticas.
E nós sentámo-nos.
O resto, como diz o outro, é história...

Histórias de Natal: uma lição de anatomia


Ceia de Natal. A sala estava cheia de gente. Nós, os mais novos, ficámos instalados numa pequena mesa de apoio já que não havia espaço para todos. A conversa estava muito animada: falávamos dos presentes do dia anterior (suponho eu…), das últimas aventuras, enfim, de assuntos de adolescentes…
O peru, a batata assada e o esparregado pululavam pelos pratos. O meu primo, homónimo, sentado entre mim e o Tulius, tal cirurgião experiente, explorava as entranhas do pedaço de animal que lhe tinha calhado em sortes. A certa altura, com um ar triunfal, apresentou-nos espetada no garfo uma pequena bola tipo rugby e exclamou: “Olha um ovinho! Hum que sorte!”. Comeu-o logo a seguir de uma só vez. Pouco depois apareceu outro: “Olha outro!”. Naquela altura o pessoal da mesa de apoio começou a ficar invejoso. Entretanto, a excitação pelas descobertas despertou a atenção dos mais velhos: “Então o que é que se passa?” perguntou o meu pai. “Estou a comer ovinhos de peru”, respondeu o meu primo. “Ovinhos de peru? Quais ovos de peru, isso são os testículos!”. Ante tal explicação, a expressão do meu primo passou rapidamente de triunfal a enjoada e envergonhada. A risota foi geral. O meu primo ainda argumentou, com ar desesperado, que tal não era possível, que aquelas bolinhas estavam dentro do animal, não estavam numa bolsa coberta de pêlos, …ou penas!!!

Um peru com testículos!.. Na altura não me passava pela cabeça que as aves partilhassem connosco tais protuberâncias. O assunto conduziu a minha memória para aquela anedota pequenina e deliciosa, o passarinho uiui: “Era um passarinho muito pequenino que tinha uns tomates muito grandes. Então, sempre que aterrava, fazia UI, FFFF, UI, UI!”
É claro que o inventor da anedota não usufruiu desta lição de anatomia…


A imagem é daqui
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Fleming: sem defeitos

É melhor que um antibiótico. Puccini, para o Labrosca.
Digam lá: esta mulher tem defeitos?

Uma «russa» a dar baile ao pató

Para sair desta tonalidade natalenta, senão ainda me ponho a cantar o gingo belos, vou contar uma história do Algarve (e ele há tantas!):
Numas férias, acampámos pela enésima vez em Lagos, Orbitur e à noite lá íamos à discoteca Eléctrico (linda: toda de branco, bares desafogados e várias pistas).
Numa dessas noites, eu e o meu amigo Óscar desencantámos dois biscoitos loiros e lá fomos cantar a nossa canção do bandido cada um para seu canto. O meu biscoito num inglês duvidoso (ou eu percebia mal: era da música ou era do álcool) foi-me dizendo que era russa e tinha viajado escondida num barco e desembarcado sorrateira (isto largamente antes do Gorby e da queda do Muro).
Toda a aventura vivida pela moça fez redobrar o meu interesse: era muito mais interessante ter uma pirata de leste a bordo ainda com sabor a comunismo na pele (uh, como seria exótico) do que uma deslavada estudante liceal nórdica. E eu spassiba para cá, perestroika para lá, glasnost para aqui, tovarich para ali, lá me fui imiscuindo e aproximando. Aquilo prometia...
Às tantas não aguentei, atravessei a pista e fui contar tudo ao Óscar que continuava o seu trabalhinho de formiga sem massacrar (como era seu timbre) junto do outro biscoito.
E contei de uma forma entre o excitado e o muito excitado: «eh, pá, grandioso, elas são russas, espectacular e tal». O Óscar ria. «É exótico», garantia eu. E o Óscar ria cada vez mais.
Na verdade ia tendo um ataque, riu, riu a bandeiras despregadas e depois lá me explicou que elas não eram nada russas e eu - conquistador de meia tigela - tinha mas era levado uma tanga de duas horas e meia da loira e perdido toda a noite.
Eu mesmo assim não acreditei voltei a atravessar a pista e fui confirmar com a minha «conquista». E ela manteve a história. Era uma refugiada, queria asilo, etc, etc. Continuei a ser toureado de fino e só no final da noite é que me compenetrei (quando todos riam à minha custa) que se tratava afinal de duas suecas classe média que tinham voado para Faro num voo charter, e ali estavam num apartamento marado a gozar a sua semanita de férias.
Não eram afinal as duas russas exóticas perseguidas pelo KGB e a pedir asilo por terem dado o salto da cortina da ferro. Lá se foi o filme na minha cabeça. Foi pena...
E foi pena o Óscar estar lá, porque desmente-me já, senão hoje - criativo como estou -dava um final diferente a esta história...

Vinicius de Moraes

Natal

De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
— Cristo nasceu!
O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
— Aonde? Aonde?
Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
— Em Belém! Em Belém!
Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
— Foi sim que eu estava lá!
E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: — É mentira!
Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.
O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!
Brava
A arara a gritar começa:
— Mentira! Arara. Ora essa!
— Cristo nasceu! canta o galo.
— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente relincha onde foi.
Bale o cordeiro também:
— Em Belém! Mé! Em Belém!
E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

22 de Dezembro de 1858
Nasceu Giacomo Puccini.
Haverá quem não goste da Madame Butterfly e La Bohème?
Mesmo que seja cantada por Leontyne Price?
BOM NATAL 2008

Na véspera de nada

Ninguém me visitou.
Olhei atento a estrada
Durante todo o dia
Mas ninguém vinha ou via,
Ninguém aqui chegou.

Mas talvez não chegar
Queira dizer que há
Outra estrada que achar,
Certa estrada que está,
Como quando da festa
Se esquece quem lá está.

Fernando Pessoa

Natal

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"

É co'a dor que o digo, mas...

O Equador foi um desapontamento total. Ontem dei-me ao trabalho de ver o primeiro episódio da série. Não presta. É uma telenovela. Maus actores, técnicas do tempo da maria cacilda (filmar à transparência), zero interesse. É tão previsível que chateia. Até o Miguel Sousa Tavares não se inibiu e apareceu. Enfim, é mesmo mauzote. Mas tirem-lhe a pinta e depois digam qualquer coisinha.

domingo, 21 de dezembro de 2008

21 Dezembro 1898
Marie e Pierre Curie descobrem o radio.

Era uma vez... a minha vez!

Há muitos, muitos anos, no século passado, as férias ou pelos menos parte delas, eram passadas a quatro: a minha namorada e dois amigos igualmente namorados. Como já vinha sendo costume, o meu pai trocou de carro comigo. Um velho R5 por um Laguna, era uma excelente troca! Nesse ano decidimos conhecer Ibiza. É realmente uma ilha fantástica para conhecer no Verão. Durante o Inverno é como os Açores mas sem o conforto da paisagem e das suas gentes para disfarçarem a solidão de tranquilidade. É atroz! Demoramos três dias pra chegar a Valência, onde metemos o carro num Ferry Boat enorme. Juntamente connosco, entraram passageiros a pé, de bicicleta, dezenas de carros e vários camiões e semi-reboques. Quando chegou a nossa vez, mandaram sair os passageiros do carro e fizeram-me seguir em direcção à parede do barco, já dentro daquele grande porão. Aquela fila de carros tinha acabado de ficar completa e por isso fizeram descer uma rampa, por cima do último carro. Tratava-se do acesso a um caminho em camarote, por cima da fila de carros, que tinha acabado de entrar. Um espanhol da tripulação mandou-me esperar e foi entabular conversa com o colega que me tinha mandado seguir até ali. Quando voltou, recolheu-me os espelhos retrovisores e eu perguntei-lhe se estava tudo bem. Respondeu-me que era “un coche un poquito grande” mas tudo bem, podia seguir “arriba” e lá fui eu. Era realmente muito estreito, parecia uma varanda gigante ao longo do grande porão de carga mas lá fui seguindo, devagar, orientado pelo espanhol, sempre com cuidado para não riscar o Laguna nos pilares que compassadamente sobressaíam da parede esquerda. É claro que me perguntei como é que ía sair dali mas o meu espírito ficou mais sossegado quando vi que o fim do caminho era outra rampa, ainda levantada e que claramente só podia ser baixada quando o porão abrisse a saída do fundo.

Quando atracamos em Ibiza apercebi-me que o Ferry tinha exactamente a mesma parte virada para o porto que tinha sido usada para carregar. Bem, eles devem ter pensado nisso, repetiam-me os meus amigos em jeito de sedativo. Mas aparentemente não tinham! Disseram-me que tinha que ir buscar o meu carro ao que eu retorqui mas por onde? Por onde saio?! Tem de vir em marcha-atrás, resposta pronta em castelhano. Pois, o “coche” não é do teu pai, nem sequer é um enorme Laguna. Quem foi o incompetente que me mandou seguir lá pra cima? Tentaram explicar-me qualquer coisa mas eu já não ouvia nada. Estava furioso! Bem, o carro ali não podia ficar e eu tinha os amigos e o resto das férias à espera, por isso… dirigi-me ao Laguna e a minha primeira reacção foi abrir os espelhos mas logo percebi que não havia espaço. Entrei no carro, respirei fundo e pus o motor a trabalhar. Engrenei a marcha-atrás e recuei 20 cm, depois mais 20… Alguns passageiros, que ao sair se apercebiam, iam ficando sem que eu me apercebesse, nas imediações do Porto. Ao cabo de mais de 25 minutos e alguns maus tratos na embraiagem, lá apareceu o principio da rampa. Agora já era um pouco mais largo e a descer, já não precisava da embraiagem mas o cansaço no tornozelo esquerdo tinha feito estragos e doía. Quando finalmente entrei no porto, já tinha esquecido as dores e a raiva, acelerei e fiz um peão de marcha-atrás com o travão de mão. Não podia ter corrido melhor se tivesse sido ensaiado. Os passageiros bateram palmas e eu assustei-me, não contava com aquela audiência. Por fim saí do carro e um dos tripulantes do Feery veio ter comigo, provavelmente para me pedir desculpa e dar alguma explicação mas eu já não estava com espírito para ouvir. Estava feliz por ter conseguido. Sentia que tinha conseguido a maior proeza do mundo! Apertei-lhe a mão e despedi-me. Ele fez questão de me dar um abraço e desejou-me boa viagem. “Vale!”

Retrato do Solstício

Communiqué

A história do Al fez-me lembrar esta música que se ouvia na tenda comunitária do Haga, em Valadares Era verão e estávamos em 1979. Sei isso porque o disco era fresquinho e foi editado nesse ano. Lembro-me do Al, do PJ e do Deibeidei (o Lab devia tár a regressar de uma caçada no mar!), mas acho que era o Haga quem mais curtia esta cassete. De quem era o gravador? Alguém se lembra? Ainda hoje adoro este disco…!



E já agora, só para relembrar um bocadinho do aspecto daqueles anos, vejam este vídeo dos Dire Straits a darem autógrafos, precisamente aquando do lançamento do Communiqué. É comentado em alemão: entschuldigung!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Amanhã é o Solstício de Inverno!


Amanhã, dia 21 de Dezembro, é o solstício de Inverno no hemisfério Norte, o “dia da noite mais longa”. A partir desta data as noites começam a ficar mais pequenas e os dias mais longos até ao solstício de Verão. É, por conseguinte, um dia cheio de significado místico.

Conhecido como o dia do “nascimento do Sol” desde a era mais remota, o solstício de Inverno foi festejado praticamente por todos os povos do hemisfério norte e associado ao renascimento e à fertilidade.
Na tradição Pagã ocorria a festa de Yule, a celebração da vitória do Rei do Carvalho (Rei Sol) sobre o Rei do Azevinho (Senhor das Sombras). Nesta data, o nosso amigo Panoramix e os restantes Druidas colhiam o visco, considerado mágico e com poderes de cura. Ainda hoje muito do culto associado ao Natal, como a Árvore-de-Natal ou a troca de prendas, têm a sua raiz nesses tempos.

Tradicionalmente, como Stonehenge fica longe, comemoro o Solstício com a minha filhota na praia. Vamos, ao fim da tarde (cercadas 4h. 30min !!!), de máquina fotográfica em punho, assistir ao Pôr-do-Sol e verificar a hora precisa em que este se esconde para lá do mar.

Nestas alturas, com um friozinho bom a chicotear-nos o corpo, costuma-me vir à memória o velho Soon dos Yes: Soooon oh Soon the light!...


Soon oh soon the light
Pass within and soothe the endless night
And wait here for you
Our reason to be here

Soon oh soon the time
All we move to gain will reach and calm
Our heart is open
Our reason to be here

Long ago, set into rhyme

Soon oh soon the light
Ours to shape for all time, ours the right
The sun will lead us
Our reason to be here
The sun will lead us
Our reason to be here


Imagem - daqui

Agora esta também em jeito desvitalizante versão 2 (para desanuviar da anterior)

Dancem até vos doer a próstata!

Da minha experiência "homossexual" num urinol de Lisboa e uma história na minha vida, em jeito de repto desvitalizante

Era uma tarde primaveril, algures nos loucos anos setenta.
Um jovem dirigiu-se ao urinol ao lado do meu.
Éramos só os dois, àquela hora e naquele lugar.
No ar pairavam odores voláteis de fluidos orgânicos.
Os seus olhos, escondidos por detrás das lentes, denunciavam carência.
Então, após alguns momentos de um silêncio estático, revelou a sua intenção, ao que eu aquiesci.
Delicadamente, trémulo, comecei a desapertar-lhe a braguilha. Em seguida, perscrutei o seu interior, conseguindo a custo expor a sua glande. Após a função, voltei a acomodar o seu pénis dentro das cuecas e, com a delicadeza possível, apertei-lhe a braguilha.



Há muito tempo que não relembrava este episódio.

Ah, já me ia esquecendo. Estávamos a regressar do Algarve da viagem de finalistas do Liceu, e este meu amigo, que pretendia urinar, tinha sido uma das vítimas da Talidomida: nasceu sem braços!

Bolt

Este é o meu objectivo destas férias escolares: Bolt!
Não posso perder... nem o meu filho me perdoava!

A propósito, este Flick Out é altamente (embora no meu caso, seja necessário um bocadinho de paciência para carregar). Viva o HD! Vejam lá.

Macau
20 de Dezembro de 1999
passou de novo à soberania chinesa.

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez..
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Receita para a crise: PFM

Para os que conhecem, é sempre bom relembrar. Para os que nunca ouviram, é uma boa descoberta. Lads and germs:

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cinema e estética

Há sempre qualquer coisa de especial nos filmes que nos cativam, que ficam na memória. Pode ser a história, as ambiências, a banda sonora, a interpretação, a beleza plástica...
É claro que alguns surpreendem-nos em todos os aspectos. Mas esses são, pelo menos no meu caso, muito raros (Modern Times, Chaplin, veio-me de repente à ideia).
Não sei se é devido à minha costela de fotógrafo, mas o facto é que costumo valorizar a componente estética no cinema: a fotografia, as ambiências, os cenários, os figurinos, a cor...
Lembrei-me, por isso, sem recorrer a grandes viagens na memória, de deixar alguns títulos ilustrativos ...

Tess (1979) - Roman Polanski
Ryan's Daughter (1970) - David Lean
Lawrence of Arabia (1962) - David Lean
Blade Runner (1982) - Ridley Scott
Bilitis (1977) - David Hamilton
The Lord of the Rings (1999) - Peter Jackson
Mulholland Drive (2001) - David Lynch
Twin Peaks: Fire Walk with Me (1992) David Lynch
Out of Africa (1985) -Sydney Pollack

... e dois trailers:

Tess:


Ryan's daughter:

Tag cloud

Tulius, isto parece-me uma forma admirável de encurtar o espaço vertical gasto pelas etiquetas. E além disso o efeito visual é lindo. Vê lá se podes incorporar esta bola de etiquetas no nosso blog. Considera-a a tua prenda de Natal…!

http://www.roytanck.com/tag-cloud

Sexo: as mulheres preferem a Internet!

Eh pá, um homem deixa de visitar o blog uns diazinhos seguidos (por andar mais ocupadito; é Natal!) e já nem consegue ter tempo para ler tudo o que há de novo! Estão muito prolíferos. Eu acho que vocês já estão é viciados nisto e os vícios são como os hábitos, só que maus, né?

Então tomem lá este estudo/sondagem da Intel, publicado ontem e levado a cabo nos States, sobre a utilização da Net. Surpresas…! Se calhar não! No resto do mundo os resultados devem ser parecidos mas não deixam de serem interessantes.

San Francisco - A new survey sponsored by computer chip giant Intel has found that about half of US women would prefer to go without sex for two weeks than manage without the internet for the same period of time.
Titled Internet Reliance in Today's Economy, the poll found that 49 per cent of women aged 18 to 34 would opt to forgo sex for two weeks rather than do without the internet, while 52 percent of women ages 35 to 44 made the same choice.
The results among men were less tech-friendly. Among males ages 18 to 34, about 39 per cent selected internet time over sex while just 23 per cent of those between 35 and 44 preferred the internet.
About 65 per cent of the 2,119 respondents believed they could not live without Internet access, compared to 39 per cent who could not go without cable TV, 20 per cent who had to dine out and 18 per cent who had to shop for clothes. Just 10 percent were lost without a gym membership.
Not surprisingly the vast majority of respondents - 91 per cent - said life was better because of the internet. About 68 per cent of respondents touted the money-saving capabilities of the web via online shopping, while 78 per cent said they felt their lives had improved because they were able to keep in touch with friends and family. Meanwhile, 47 per cent said they could manage their finances better with the help of the internet.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Oscar Peterson, o rei do piano!

Desta vez não é o Niemeyer nem o Monami, é o Peterson! Quanto a mim o rei do piano, do país do jazz, juntamente com Bill Evans.
Chamavam-lhe o gigante - brincando também com a sua altura, perto de 1,90m. Oscar Peterson (1925 - 2007) nasceu em Montreal, Canadá. Começou a estudar piano e trompete com o pai aos cinco anos. Abandonou mais tarde o trompete devido a uma tuberculose.
Ao longo da sua carreira tocou com grandes nomes do jazz tais como Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Carmen McRae, Louis Armstrong, Lester Young, Count Basie, Charlie Parker, Quincy Jones, Stan Getz, Dizzy Gillespie e Modern Jazz Quartet, e recebeu inúmeros prémios dos quais se destacam 7 Grammy, o Imperiale World Art Award (1999), e o prémio de música da UNESCO (2000).
Os seus parceiros musicais mais constantes foram os contrabaixistas Ray Brown e Niels-Henning Orsted Pedersen e os guitarristas Herb Ellis e Joe Pass.
Era dotado de um virtuosismo técnico que causava inveja mesmo entre os pianistas clássicos. No entanto, era disso precisamente que o acusavam os críticos: de ser "vítima da sua técnica espectacular". O que os seus "dedos voadores" (usava da mesma forma ambas as mãos) eram capazes de fazer no teclado era tão surpreendente e extraordinário que era a isso que as audiências se prendiam, mais do que ao "verdadeiro artista" que existia nele, o homem capaz de "transformar qualquer melodia em correntes espontâneas de boa música".

No vídeo que a seguir publico, Caravan (Duke Ellington), gravado em 1986, é curioso ver-se a expressão de admiração do contrabaixista Orsde Peterson ante o virtuosismo do mestre.

Apreciem...

Salvo em Epse...

Ontem falei aqui da carga policial contra polícias e de como fiquei embaraçado quando vi as imagens em casa de uns amigos na Holanda e lembrei-me de um episódio que se não dava um filme, dava pelo menos um trailer. Let´s look then:
Eu tinha uma amiga chamada Ellen que morava em Epse, Holanda, e a meio de um inter-rail resolvi ir visitá-la. (Convém recordar que estamos na era do pitecantropus sem telemobilus). O caso começou logo quando me vi grego (cá está!) para chegar a Epse, lugar de que ninguém tinha ouvido falar. A custo lá encontrei alguém que me disse que ficava perto de Daventer e lá fui, a partir de Amesterdão.
De Daventer para Epse fui de autocarro e à boleia, porque entretanto explicaram-me que Epse nem sequer era uma aldeia, tinha apenas três casas.

O carro deixou-me numa estrada e disse-me que agora era só andar. E andei. Quando finalmente cheguei a casa da Ellen (todo o dia a viajar para fazer para aí 60 km) bati literalmente com o nariz na porta. A casa era muito gira, de campo e tal, mas não tinha ninguém. Olhei em redor e não vi vivalma. Sentei-me na degrau soleiro a comer bananas e comi toda a fruta que conseguira comprar com os últimos marcos antes de passar para os florins.
Esperei. E comi pêras. Esperei outra vez.
Depois, a noite começou a cair e o vento a vergastar os salgueiros. E eu a ficar com frio. E desesperado. E arrependido de ter ido.
De repente, literalmente de nenhures, no estradão de terra batida fronteiro à casa, surge uma rapariga (sim, era bela) a passo lento no seu corcel negro. Levantei-me num ápice a pensar que fosse a Ellen (era uma grande 'animal lover') mas depressa vi que não era. E a elegante amazona passou sobranceira, muito devagar. Sorriu e eu retribui. E lá continuou.
O tempo passava e a noite a chegar sem aparecer ninguém e eu no meio de nenhures. Tentei encontrar outra casa, alguém, um carro, uma estrada, mas nada. Depois de muito palmilhar avistei um agricultor no seu tractor. E perguntei-lhe no meu melhor inglês: - olhe, por favor, conhece a Ellen?
- Conheço,claro, respondeu num inglês melhor que o meu, «mas estás com azar porque ela e a mãe estão na cidade e só voltam ao fim-de-semana. E nem todos.».
Balde de água fria. Larguei uns impropérios em português, mas para dentro, claro. A noite chegou e eu, desesperado, não sabia o que fazer.
Voltei à estrada, andei uns metros, mas estava a dezenas de quilómetros da próxima povoação e sucumbi.
Atirei a mochila para a valeta e sentei-me na estrada. Passada uma meia hora aproxima-se um carro e eu levantei-me dum pulo a pensar como fazê-lo parar.
Mas não foi preciso. O pequeno Golf castanho encostou e abrindo a janela a bela amazona que tinha passado por mim, disse-me:
- Estavas à espera da Ellen, não estavas? Fiquei tão boquiaberto que nem falei, assenti apenas. O calor que vinha de dentro do automóvel inebriava-me. E ela era linda...
- É melhor entrares porque a Ellen não vem hoje de certeza e aqui não arranjas sítio para dormir. Podes vir para minha casa.
Fui para casa dela. E foi ao jantar que vendo as imagens na televisão lá lhe expliquei que não era comum em Portugal os polícias arrearem nos outros polícias. Passámos um par de dias fantásticos. Depois no fim-de-semana levou-me a casa da Ellen. Mas já não me apetecia ir para casa da Ellen. Ainda hoje trocámos postais de Natal.

Glenn Miller: resmas de swing...



Tema: Chattanooga Choo Choo

Músicos: Glenn Miller e a sua orquestra (1941)

Informações sobre Glenn Miller - aqui

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Oscar Niemeyer - 101 anos

No outro dia, falei aqui do seu Manoel. Mas esqueci-me do meu amigo Oscar, o outro, o Niemeyer, que ontem fez... 101 anos. Deve ser da água de coco.
Aqui fica um apontamento da sua persona.
Quem foi a Brasília já viu a inovação na arquitectura. E o o Museu de Arte Contemporânea de Niterói é de Marte.
Parabéns, Nimas...

A cumprir uma promessa: sua cáfila!



Atenção: avisei aquando da última tertúlia que chamaria os bois pelos nomes se não publicassem.
Assim, confirmo o que já se dizia baixinho nos corredores das escolas enquanto se liam os formulários da (homo-perdão-auto)avaliação: o Deibaidei, o Al Prazolam, o Hagarrakiman, o Tullius são homossexuais reprimidos ainda dentro do armário à espera de saltar cá para fora e darem o que têm (e não têm) ao primeiro que apanharem numa viela escura.
Mais: são aves palmípedes, cheiram mal da boca, são iconoclastas rançosos, bexiguentos, cheios de pus nas fauces.
Por último, não tomam banho, coçam-se nas partes pudibundas e cheiram os dedos à espera de um milagre.
Isto só para falar nas qualidades.
Atenção: mesmo o Labrosca e o Kmett também tem laivos de rabetice, mas menos.
Os únicos homens com duplo h grande sou eu e o Óscar. Imprima-se e divulgue-se.

O primeiro dia do resto das nossas vidas

Uma das questões que me tem feito reflectir ao longo dos anos é o peso que a nossa imagem tem na nossa própria vida. A percepção daquilo que somos e a imagem que os outros têm de nós próprios condiciona muito daquilo que fazemos, como fazemos, como sentimos e como nos expressamos; como os outros interpretam as nossas posturas e as nossas reacções. No fundo esse invólucro limita a nossa liberdade e inibe a nossa capacidade de nos exprimirmos de uma forma verdadeiramente genuína.
O peso do passado e o receio do futuro, a rotina (maldita!), os mal-entendidos, a nossa incapacidade para expressarmos aquilo que sentimos no momento, diminuem a possibilidade de sermos felizes e de fazermos felizes os que nos rodeiam.
Tudo isto vem a propósito de (mais) uma conferência TED que ouvi recentemente, "Um derrame de lucidez", e que deixo aqui para os que quiserem perder (?) uns "preciosos" 20 minutos.




Este novo ano que se aproxima é talvez uma boa oportunidade para relativizarmos os problemas que nos martelam a cabeça; para, com esta mais limpa, darmos a nós próprios uma nova oportunidade de apreciar de uma forma diferente cada momento da nossa vida.

CARPE DIEM !

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Pode a rua grega acontecer em Portugal?



É uma espécie de Né Ladeiras no programa da manhã do Goucha. Depois aparece um tipo com lata. Cá era um bêbado.

ÀS VEZES VEJO-ME GREGO

O que se está a passar (já acabou?) na Grécia não me surpreende muito. Gosto dos gregos - antigos e modernos, mesmo com cerca de 400 anos de turcos pelo meio - mas temos de perceber que estão longe de ser gente pacífica e de bom senso. Têm uma Língua impossível, paracaló, uma escrita que não é fácil e uma agressividade muito característica, no modo como se relacionam no seu dia-a-dia, que pode ser divertida e estimulante, mas que a longo prazo estafa qualquer criatura.
E o calor, uff, o calor!!! Basta ter passado por Atenas dois dias no inter-rail para se saber que aquilo é impossível. Eu, com aquele calor atirava pedras aos meus pais. E como são presunçosos. Os estudantes acreditam ser os dignos descendentes de Sócrates, Platão e Aristóteles, desprezam a Europa (com parcial excepção dos países mediterrânicos, em que nos incluem) e não reconhecem a autoridade da Polícia, era só o que faltava.
Aliás a polícia é a mais brutal da Europa. O filme Expresso da Meia-Noite devia ser na Grécia e não na Turquia. De vez em quando põem bombas nos McDonald's principais da capital. Só porque sim. Na Grécia, um católico não ortodoxo é um católico de segunda. Mais valia ser judeu ou protestante.
Pode-se ser muito feliz no caos de Atenas, com retsina, souvlaki e bouzouki. Todos os gregos julgam que inventaram a democracia (e inventaram) mas os actuais também julgam que a inventaram. E todos acham que são atletas dignos do Olimpo. Os gregos são perfeitos para debater toda a espécie de temas. E à falta de temas debatem com pedras, paus ou automóveis.

Agora, poderíamos ter Portugal (civilizado, isto é, os estudantes betinhos das cidades) à pedrada bruta contra a polícia? Não.
Um português descontente resmunga, china o automobilista à sua frente, vai ao futebol, bate na mulher, toma comprimidos ou vai às tias, mas NÃO BATE NA AUTORIDADE; Aliás os únicos que vi baterem na polícia foram outros polícias (na altura estava em casa de uns amigos na Holanda e foi muito embaraçoso ver aquelas imagens na TV e a palavra Portugal em rodapé...). Sim, polícia bate, nem que seja noutro. Agora o Zé Tuga bate na avó, nos filhos, nas pais dos amigos dos filhos, nos sportinguistas, bate chapas, bate bola, bate barba, mas na AUTORIDADE NÃO!
Em suma, o TUGA aguarda, a ver no que param as modas; espera, espera a ver o que vai dar a situação, deita-se um bocadinho a ver se passa, e não é que passa mesmo. Amanhã é outro dia.

Esta é diferença: um grego mais ou menos contente atira pedras à Polícia, um português lixado com a vida (e com razão) atira pedras (e esconde a mão) a um cão sarnento na via pública e resmunga, «bô noute ó senhor agente», enquanto apanha mais dois calhaus médios para atirar para o quintal do vizinho.

Mas basta de socio-antropo-filo-hermeneutico-sabático-discursIVA. Isto foi só para publicar alguma coisa porque não gosto de ver um dia passar e o diário sem novas entradas. Bô noute!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Monami no Monami

Por sugestão de vários monamis, que esta quadra não dá tréguas a ninguém, venho propor que a próxima tertúlia se realize (finalmente!) na "casa mãe".

Por favor, manifestem-se sobre a sugestão!

Perdigão perdeu a pena

Muitos de nós nunca conseguimos superar o trauma chamado "Lusíadas", enfiado tal xarope pela goela abaixo, nos tempos do Liceu. Mas Camões merece a pena ser revisitado na nossa idade. A maturidade por vezes faz verdadeiros milagres!

"Pedigão perdeu a pena" era daqueles poemas que o meu pai trazia sempre debaixo da língua e que me citava como quem quer indicar "um caminho". Talvez por isso sempre o considerei como um "poema da minha vida".

Em memória do meu pai.

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

Luís Vaz de Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

Dueto já previsto: Neruda e Massimo Troisi

Este é um dueto já previsto: Neruda e Troisi, um grande actor italiano que podem apreciar aqui e que morreu no final das filmagens de «Il Postino».



PUEDO ESCRIBIR LOS VERSOS MÁS TRISTES ESTA NOCHE

«Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.»

Julgo que não carece de tradução, mas para os mais preguiçosos:

POSSO ESCREVER OS VERSOS MAIS TRISTES ESTA NOITE

«Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tremeluzem, azuis, as estrelas, ao longe”.

O vento nocturno sopra no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a, e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta, tive-a entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes debaixo do céu infinito.

Ela amou-me, por vezes também eu a amei.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que já não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como o orvalho na relva.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
E a minha alma está por tê-la perdido.

Como para aproximá-la, meu olhar procura-a.
Meu coração procura-a, e ela não está comigo.

A mesma noite que branqueia as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez ainda a ame.
É tão rápido o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta, tive-a entre os meus braços,
e a minha alma está triste por tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes os últimos versos que lhe escrevo.»

sábado, 13 de dezembro de 2008

Efeitos da crise...







Imagens: daqui

Publicações a inserir

Caro Tullius, Administrador não remunerado, mas melhor que muitos banqueiros: podemos incluir estas publicações (e quiçá outras de idêntico calibre) lateralmente no nosso bliogue?

Jornais e revistas


Colóquio-Letras
Diário de Notícias
El Mundo
El Pais
Folha de São Paulo
Jornal do Brasil
London Review of Books
Los Angeles Times
Obscena
O Globo
Prospect
Público
The Advocate
The Economist
The Guardian
The Independent
The Morning News
The Nation
The New Republic
The New York Review of Books
The New York Times
The New Yorker
The Observer
The Times Literary Supplement
The Village Voice
The Washington Post

Julgo que acrescenta...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Uma receita para o Natal e outra para 2009

Receita de Natal

Bacalhau para a noite de Consoada:

Ingredientes
bacalhau demolhado 4 postas
batatas para cozer 600 g
ovos 4 und.
couves portuguesas 2 tronchudas
azeite 1 dl
sal q.b.

Modo:
1 Coloque um tacho com água e sal ao lume e deixe levantar fervura. Junte o bacalhau e deixe cozer em lume brando durante 10 minutos.
2 Entretanto, descasque as batatas e prepare as couves. Coza as batatas em água temperada com sal; coza as couves à parte; faça o mesmo aos ovos.
3 Finalmente, descasque os ovos e sirva-os com o bacalhau e as batatas, regando tudo com azeite.

Receita para 2009:

Se vais... vai tão longe quanto puderes! Se vens... vem toda! Se chorares... pensa que vais melhorar! Se fizeres... faz diferente! Se abraçares... abraça até doer! Se rires... ri até te doer a barriga! Se sonhares... sonha mais alto! Se te apaixonares... grita isso em bom som! Se te divorciares... continua amiga! Se acreditares... acredita sem reservas! Se arriscares... arrisca tudo! Se pensares... pensa por ti! Se saíres... sai da rotina! Se amares... vai fundo! Se mudares... muda tudo! Se contares... CONTA COMIGO!!!

Ah, e já agora, Boas Festas... no corpo todo!

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM: comemoração dos 60 anos


Proclamada pela Assembleia Geral da ONU a 10 de Dezembro de 1948 a Declaração Universal dos Direitos do Homem continua, 60 anos depois, a ser uma utopia.

Porque é preciso afirmar a importância do momento o monami6f junta-se à cadeia blogosférica mundial "Blogagem Colectiva pelos Direitos Humanos". Iniciativa de Fênix ad eternum .


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Nos 100 anos do senhor Manoel...



Não queria deixar passar em branco os 100 anos do senhor Manoel de Oliveira. Até porque tenho sentimentos ambivalentes em relação à figura e ao realizador. Mais do que ambivalentes é a convicção de que não é tão mau como alguns o pintam (qualificando-o como o maior seca sempre) embora a noção de montagem de facto não prime pela dècoupage que o (mau) cinema americano habituou os nossos olhos.

E, a meu ver, também não é tão bom como agora (sobretudo agora) a crítica e o comum da opinião debita quotidianamente. Gostei do Aniki e do Non ou Vã Glória de Mandar (ainda procurei um excerto do final que acho muito bem sacado, mas não encontrei). Mas do resto da filmografia há muito que me parece francamente entediante...
De qualquer forma os parabéns são devidos porque 100 é só para nós: os ruins de alma e coração...

NÃO EXISTE CRISE


NÃO EXISTE CRISE

David Lynch: a importância do pormenor

É verdade que por vezes a nossa paciência esbarra na (aparente?) falta de sentido de alguns dos argumentos (estou a lembrar-me por exemplo de Mulholland Drive...). Mas essa é a sua própria natureza. Os filmes são uma brilhante tentativa de nos conduzir ao mundo do subconsciente, ao nosso lado mais obscuro. São os sonhos, os pesadelos, os fragmentos de histórias desligados e/ou entrelaçados como peças de xadrez... é toda uma ambiência fantasmática...
A cor e a música jogam um papel fundamental nos seus filmes. E os planos apertados... esses são verdadeiramente a sua imagem de marca! Quem não se lembra das cenas de um fósforo a arder, uma moeda a cair em câmara lenta...
São estes pequenos detalhes que, na minha opinião, o tornam um realizador genial!

Abaixo as iluminações, já!

Uma coisa que me chateia são as iluminações de Natal. Não há muitas coisas tão pirosas, sensaboronas, chantronas como as iluminações com as renas e as estrelinhas e a expressão «próspero Ano Novo» mal escrita.
Todas as terriolas têm de ter. São uns macacos de imitação. Depois, vão buscá-las à empresa Castro que se farta de ganhar massa à custa destes patós indigentes pgisidentes de jiunta.
Agora são as marcas, Tmn, samsung, samesong, sameshit, a invadir todos os adros, jardins e ruelas com o «sponsoring», o marketing e o branding. Chiça!
Basta! São todos uns grandes azeiteiros. É uma poluição visual impossível. Começa aqui e agora um grupo de pressão para partir, derrubar e danificar todas as iluminações de Natal.
Ah, e quem gostar das iluminações também é um grande azeitona. E quem não se importar é homesexial reprimido...

Mata do Mezio (Soajo)


Mata do Mezio
PS: Longe de ser a solução ideal, é uma forma simples de vermos
as fotografias em tamanho aceitável.
É só clicar na imagem e depois de estar no site dos álbuns web Picasa clicar
em "Apresentação de Diapositivos (em cima à esquerda).
Quando tiver tempo tento uma solução mais simpática...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Agustina, a depressão e a confidência...

Este bliok está a ficar interessante com as histórias de vida. Aqui vai outra:

Há uns anos, a instituição onde trabalho patrocinou uma visita do Centro Nacional de Cultura ao Norte. E a senhora do CNC, por sinal socialmente muito simpática e atenta, julgou - enganada - que eu era um figurão importante e num dos jantares da jornada, que teve lugar na Bolsa do Porto, colocou-me ao lado da escritora Agustina Bessa Luís.
Eu fiquei algo ansioso, já que por (de)formação sou muito reverente em relação a estas figuras cimeiras da cultura e da literatura em especial. Mas também sou muito curioso e inquisitivo.
Não tinha justificação a minha apreensão, já que a Autora foi extremamente cordial e a conversa decorreu de uma forma muito natural e interessante, respondendo Agustina directamente a todas as minhas questões.
Perante um misto de espanto e aborrecimento dos outros comensais, cuja conversa era entediante até mais não, tagarelámos abundantemente sobre literatura e a obra de Agustina (sem que eu tenha lido integralmente qualquer livro dela).
E no meio da conversa, eu disse-lhe que tinha lido um livro dela chamada Contos Impopulares.
-«Oh, é dos meus primeiros...», disse-me, ficando algo intrigada por eu conhecer aquela obra.
E depois disse-me: «Sabe, esse foi o livro que me fez escritora, porque eu já tinha abandonado a escrita».
E depois explicou-me entre outras «confissões», que após a sua primeira obra (Mundo Fechado, de 1948) que tinha sido um sucesso retumbante (e ganhou um importante prémio) publicou logo de seguida o seu segundo livro (Os Super-Homens, de 1950).
Estava à espera de igual reconhecimento (do público e da crítica) mas foi olimpicamente criticada e ignorada, tendo ficado profundamente deprimida e abandonado a literatura, tendo mesmo ponderado nunca mais escrever uma linha.
Confessou-me que chorava, prostrada, e só o alento de editores amigos (que mencionou pelo nome mas que já não recordo) e que gradualmente lhe recuperaram a auto-estima, fez com que voltasse à escrita. Foi então que escreveu os «Contos Impopulares».
Depois veio «A Sibila» e o sucesso que todos conhecemos...