domingo, 14 de dezembro de 2008

Perdigão perdeu a pena

Muitos de nós nunca conseguimos superar o trauma chamado "Lusíadas", enfiado tal xarope pela goela abaixo, nos tempos do Liceu. Mas Camões merece a pena ser revisitado na nossa idade. A maturidade por vezes faz verdadeiros milagres!

"Pedigão perdeu a pena" era daqueles poemas que o meu pai trazia sempre debaixo da língua e que me citava como quem quer indicar "um caminho". Talvez por isso sempre o considerei como um "poema da minha vida".

Em memória do meu pai.

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

Luís Vaz de Camões

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