domingo, 7 de dezembro de 2008

Pequenas atitudes, grandes sentimentos.


No início da década de 80, juntamente com o amigo Labrosca e outro amigo também ligado à arte das ervas daninhas, empreendemos uma jornada de 15 dias em bicicletas carregadas de tralha por terras nortenhas com destino à Galiza. A isso se chamava cicloturismo como, aliás, se chama hoje mas com equipamentos mais apropriados. No regresso do país de nuestros hermanos, após uma subida interminável de gritar pela mamã, chegamos a Covide – Gerês, onde fomos recebidos efusivamente pelas crianças covidenses e com sorrisos convidativos e de boas vindas dos restantes habitantes. Fomos instalar o nosso acampamento no local que a foto documenta, sempre na companhia da criançada. Quando preparávamos o jantar, fomos visitados pelo pai de um dos rapazes que, ao despedir-se, perguntou: -“Então onde é que vocês se sentam para comer?”. –“No chão” – respondeu um de nós. Com uma expressão perturbada, lá nos deixou com votos de bom apetite. Alguns minutos depois aparece o rapazito, com um colega, carregando um banco comprido, dizendo: -“O meu pai mandou trazer isto para vocês se sentarem”.
Covide ficará sempre na minha memória pela indiscutível beleza paisagística mas, sobretudo, pela beleza humana e sincera que tive o privilégio de presenciar.

3 comentários:

K disse...

Boas memórias...

Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . . Tudo é o mesmo . . . Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . . Pra quê o pensamento? . . .

Fernando Pessoa (a preto e branco)

Kmett N’Ojo disse...

Hihi! Chega Lab!
Bem, isto tá com uma produtividade que eu não me lembro de ver.
Que BOM!

Óscar disse...

História muito bem contada. Gostei!