terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Agustina, a depressão e a confidência...

Este bliok está a ficar interessante com as histórias de vida. Aqui vai outra:

Há uns anos, a instituição onde trabalho patrocinou uma visita do Centro Nacional de Cultura ao Norte. E a senhora do CNC, por sinal socialmente muito simpática e atenta, julgou - enganada - que eu era um figurão importante e num dos jantares da jornada, que teve lugar na Bolsa do Porto, colocou-me ao lado da escritora Agustina Bessa Luís.
Eu fiquei algo ansioso, já que por (de)formação sou muito reverente em relação a estas figuras cimeiras da cultura e da literatura em especial. Mas também sou muito curioso e inquisitivo.
Não tinha justificação a minha apreensão, já que a Autora foi extremamente cordial e a conversa decorreu de uma forma muito natural e interessante, respondendo Agustina directamente a todas as minhas questões.
Perante um misto de espanto e aborrecimento dos outros comensais, cuja conversa era entediante até mais não, tagarelámos abundantemente sobre literatura e a obra de Agustina (sem que eu tenha lido integralmente qualquer livro dela).
E no meio da conversa, eu disse-lhe que tinha lido um livro dela chamada Contos Impopulares.
-«Oh, é dos meus primeiros...», disse-me, ficando algo intrigada por eu conhecer aquela obra.
E depois disse-me: «Sabe, esse foi o livro que me fez escritora, porque eu já tinha abandonado a escrita».
E depois explicou-me entre outras «confissões», que após a sua primeira obra (Mundo Fechado, de 1948) que tinha sido um sucesso retumbante (e ganhou um importante prémio) publicou logo de seguida o seu segundo livro (Os Super-Homens, de 1950).
Estava à espera de igual reconhecimento (do público e da crítica) mas foi olimpicamente criticada e ignorada, tendo ficado profundamente deprimida e abandonado a literatura, tendo mesmo ponderado nunca mais escrever uma linha.
Confessou-me que chorava, prostrada, e só o alento de editores amigos (que mencionou pelo nome mas que já não recordo) e que gradualmente lhe recuperaram a auto-estima, fez com que voltasse à escrita. Foi então que escreveu os «Contos Impopulares».
Depois veio «A Sibila» e o sucesso que todos conhecemos...

2 comentários:

Óscar disse...

Boa bola!

Kmett N’Ojo disse...

Está mesmo indiscutivelmente, muito mais interessante este Blog com estas vossas Histórias de Vida. Não paras de me surpreender. Mas pensando melhor não admira... és o Vidal!