domingo, 21 de dezembro de 2008

Era uma vez... a minha vez!

Há muitos, muitos anos, no século passado, as férias ou pelos menos parte delas, eram passadas a quatro: a minha namorada e dois amigos igualmente namorados. Como já vinha sendo costume, o meu pai trocou de carro comigo. Um velho R5 por um Laguna, era uma excelente troca! Nesse ano decidimos conhecer Ibiza. É realmente uma ilha fantástica para conhecer no Verão. Durante o Inverno é como os Açores mas sem o conforto da paisagem e das suas gentes para disfarçarem a solidão de tranquilidade. É atroz! Demoramos três dias pra chegar a Valência, onde metemos o carro num Ferry Boat enorme. Juntamente connosco, entraram passageiros a pé, de bicicleta, dezenas de carros e vários camiões e semi-reboques. Quando chegou a nossa vez, mandaram sair os passageiros do carro e fizeram-me seguir em direcção à parede do barco, já dentro daquele grande porão. Aquela fila de carros tinha acabado de ficar completa e por isso fizeram descer uma rampa, por cima do último carro. Tratava-se do acesso a um caminho em camarote, por cima da fila de carros, que tinha acabado de entrar. Um espanhol da tripulação mandou-me esperar e foi entabular conversa com o colega que me tinha mandado seguir até ali. Quando voltou, recolheu-me os espelhos retrovisores e eu perguntei-lhe se estava tudo bem. Respondeu-me que era “un coche un poquito grande” mas tudo bem, podia seguir “arriba” e lá fui eu. Era realmente muito estreito, parecia uma varanda gigante ao longo do grande porão de carga mas lá fui seguindo, devagar, orientado pelo espanhol, sempre com cuidado para não riscar o Laguna nos pilares que compassadamente sobressaíam da parede esquerda. É claro que me perguntei como é que ía sair dali mas o meu espírito ficou mais sossegado quando vi que o fim do caminho era outra rampa, ainda levantada e que claramente só podia ser baixada quando o porão abrisse a saída do fundo.

Quando atracamos em Ibiza apercebi-me que o Ferry tinha exactamente a mesma parte virada para o porto que tinha sido usada para carregar. Bem, eles devem ter pensado nisso, repetiam-me os meus amigos em jeito de sedativo. Mas aparentemente não tinham! Disseram-me que tinha que ir buscar o meu carro ao que eu retorqui mas por onde? Por onde saio?! Tem de vir em marcha-atrás, resposta pronta em castelhano. Pois, o “coche” não é do teu pai, nem sequer é um enorme Laguna. Quem foi o incompetente que me mandou seguir lá pra cima? Tentaram explicar-me qualquer coisa mas eu já não ouvia nada. Estava furioso! Bem, o carro ali não podia ficar e eu tinha os amigos e o resto das férias à espera, por isso… dirigi-me ao Laguna e a minha primeira reacção foi abrir os espelhos mas logo percebi que não havia espaço. Entrei no carro, respirei fundo e pus o motor a trabalhar. Engrenei a marcha-atrás e recuei 20 cm, depois mais 20… Alguns passageiros, que ao sair se apercebiam, iam ficando sem que eu me apercebesse, nas imediações do Porto. Ao cabo de mais de 25 minutos e alguns maus tratos na embraiagem, lá apareceu o principio da rampa. Agora já era um pouco mais largo e a descer, já não precisava da embraiagem mas o cansaço no tornozelo esquerdo tinha feito estragos e doía. Quando finalmente entrei no porto, já tinha esquecido as dores e a raiva, acelerei e fiz um peão de marcha-atrás com o travão de mão. Não podia ter corrido melhor se tivesse sido ensaiado. Os passageiros bateram palmas e eu assustei-me, não contava com aquela audiência. Por fim saí do carro e um dos tripulantes do Feery veio ter comigo, provavelmente para me pedir desculpa e dar alguma explicação mas eu já não estava com espírito para ouvir. Estava feliz por ter conseguido. Sentia que tinha conseguido a maior proeza do mundo! Apertei-lhe a mão e despedi-me. Ele fez questão de me dar um abraço e desejou-me boa viagem. “Vale!”

2 comentários:

K disse...

O teu pai nunca soube, claro!
Arriba.

©arloslemos disse...

Porra que até suei!