domingo, 7 de setembro de 2008

Os 50 anos da bossa nova

"Nós éramos um grupo de jovens que procurava uma identidade musical, pois o que se tocava no Brasil no final dos anos 60, apesar de ser uma música bonita, bem feita, não era em absoluto uma realidade de uma geração mais solta, mais alegre, mais ligada à natureza do que a geração anterior que curtia a noite, as boates, os amores sofridos e cuja música refletia essas situações de seu dia-a-dia.
Ouvíamos e tocávamos sambas-canções que diziam: "Sei que falam de mim, sei que zombam de mim, ó Deus, como sou infeliz", ou "Se eu morresse amanhã de manhã, não faria falta a ninguém", ou "Garçom apague essa luz que eu quero ficar sozinho, garçom me deixe comigo que a mágoa que eu tenho é só minha".
Imaginem nós, com 20 anos de idade, cantando todo esse sofrimento!
Passamos então a criar um outro universo mais leve e mais otimista na maioria das vezes, como: "Era uma vez um lobo mau que resolveu jantar alguém", ou "Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver", ou "Dia de luz, festa de sol, e um barquinho a deslizar no macio azul do mar". Todas essas mensagens vinham acompanhadas de uma música que era uma fusão de tudo que ouvíamos, como samba-canção, samba, bolero, jazz e muito musical norte-americano que passava sempre nos cinemas Metro. Essa fusão de melodias e harmonias veio embalada por uma batida que ficou famosa como "a batida da Bossa Nova" que todo mundo queria aprender, aliás, todo "O Mundo".(Roberto Menescal)

O início da Bossa Nova é marcado pelo lançamento de dois trabalhos: "Canção do Amor Demais", um LP de Elizeth Cardoso cantando Tom e Vinicius, com João Gilberto ao violão em duas faixas, e o 45 rotações "Chega de Saudade", interpretado por João Gilberto.
Os três principais impulsionadores desta corrente musical foram os três "monstros sagrados" Tom Jobim, Vinicius e João Gilberto. O primeiro foi, porventura, o maior compositor de música ligeira do último século. O segundo, assinou as letras de canções que continuam hoje a ser cantadas e reinventadas nos quatro cantos do mundo. Emprestou, também, todo o seu charme e o seu encanto em interpretações inesquecíveis de canções e poemas. Porém, foi a batida sincopada do violão do João Gilberto, talvez o principal factor inovador e distintivo da Bossa Nova.
Uma música fresca, meiga, sofisticada, cheia de harmonia, diferente, dissonante, sussurrada, sensível, muito, muito bonita. É assim a BOSSA NOVA.

3 comentários:

©arloslemos disse...

Daqui a 150 anos este vídeo ainda será ouvisto mas na forma heliográfica em 3D nas colónias planetárias que entretanto se vão formar.

Vital disse...

Gostava de contribuir com uma particularidade que pode vir a ser um comentário polémico: Tom Jobim foi buscar a toada a um alemão.
É verdade, Hans-Joachim Koellreutter (Freiburg, 2 de Setembro de 1915 – São Paulo, 13 de Setembro de 2005) foi um compositor, professor e musicólogo alemão. Mudou-se para o Brasil em 1937 e tornou-se um dos nomes mais influentes na vida musical no País.
Estudou composição com Paul Hindemith. Ainda jovem, já era conhecido e respeitado na Alemanha como flautista de concerto. Começava sua carreira de regente quando Adolf Hitler ascendeu ao poder. Ao ficar noivo de uma moça judia, desagradou à sua família, que simpatizava com o nazismo e o denunciou à Gestapo. Exilou-se então no Brasil, por acaso, pois queria ir para a Argentina, mas o navio escala na Baía. Gostou tanto que ficou. Depois, foi morar no Rio de Janeiro. Conheceu e ficou amigo de Heitor Villa-Lobos e Mário de Andrade. Em 1938 começou a ensinar música no Conservatório de Música do Rio de Janeiro.
Na década de 1940 ajudou a fundar a Orquestra Sinfônica Brasileira, onde foi primeiro flautista. Naturalizou-se brasileiro em 1948.
Koellreutter era adepto da música dodecafônica, movimento criado por Arnold Schoenberg. Fundou em 1939 o grupo Música Viva.
Teve entre seus alunos de composição Guerra-Peixe, Edino Krieger, Cláudio Santoro, Camargo Guarnieri e Tom Jobim.
Além de compositor, regente e flautista, Hans-Joachim Koellreutter foi antes de tudo um professor. Em 1941, contratado pelos pais de Tom Jobim, começou a lecionar piano e harmonia para o futuro criador da Bossa Nova que só tinha 13 anos. Foi seu primeiro professor de música. Além de Jobim, Koellreutter ensinou e influenciou, durante toda sua vida, uma legião de músicos populares e eruditos. Entre eles: Djalma Corrêa, Caetano Veloso, Tom Zé, Moacir Santos, Gilberto Mendes e José Miguel Wisnik entre outros.
Basta ouvir algumas peças de Claudio Santoro (Manaus, 23 de Novembro de 1919 — Brasília, 27 de Março de 1989) compositor e maestro brasileiro para perceber até que ponto a influência de Koellreutter foi decisiva em Jobim para criar a Bossa Nova.

Óscar disse...

Estamos sempre a aprender!..