sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Carnaval mais insólito


Caminha tem uma magia muito especial. Naquele pequeno extremo do nosso país vivi histórias inesquecíveis! Hoje vou contar uma.
Dois anos ou três depois de casado eu e a minha companheira, ainda sem filhos, decidimos aproveitar as férias de Carnaval para dar um passeio pelo Minho. Por mera coincidência, porque o Entrudo não nos dizia nada de especial, ficámos alojados na Estalagem da Boega (Vila Nova de Cerveira) precisamente na noite dos sambas e das serpentinas.

À hora do jantar começámos a conhecer a personagem, totalmente excêntrica e singular, que foi a grande protagonista da noite.

Um tal Sr. Amorim, dono da estalagem, pegou numa sineta e, fazendo-a soar, avisou que a refeição iria ser servida. A forma como organizou o jantar e se dirigiu às pessoas, autoritária e pouco afável, causou-me algum incómodo e surpresa. Parecia que nós éramos "paus mandados" às suas ordens. Que fazia o favor de nos receber.

Durante o jantar, foram inúmeras as peripécias que se foram sucedendo: "Não gosta? Então come menos porque não há mais nada para servir"; "Quem é que sabe cantar? E tocar viola?" E sem que desse tempo às pessoas para se manifestarem lá apontou dois ou três desgraçados para animarem a noite. Eu, porque a minha companheira começava a alinhar no jogo, fui um dos voluntários à força.

Passado o impacto inicial o pessoal começou a baixar as defesas e a alinhar na brincadeira. Depois do jantar lá fomos todos à ordem do Sr. Amorim para o bar da Estalagem. "Podem beber o que quiserem por conta da casa, hoje é Carnaval!". As pessoas entreolharam-se boquiabertas e começaram a conviver animadamente.

A certa altura, a dita personagem vira-se para mim, para a minha companheira e para mais 5 ou 6 pessoas e diz: "Tu, tu e tu venham comigo. " Ninguém se questionou. E lá fomos em dois ou três carros rumo a "sabe-se lá onde"!..

Pouco tempo depois parámos numa bruta moradia, propriedade de um amigo do Sr. Amorim. Entrámos para a cave onde existia um piano de cauda, várias violas e uma enorme e acolhedora lareira.

Virando-se para nós iniciou as apresentações: "Este casal é de Lisboa. Ele é psiquiatra e ela artista plástica. Aquele senhor chama-se Costa e é Industrial"... e as identidades fictícias que ele nos arranjou, fruto de uma imaginação delirante, continuaram a fazer as delícias de todos!

A noite foi inesquecível! Muita música, vinhos de Bordéus, presunto Pata-negra, queijos dos mais variados gostos, feitios e proveniências.

Era já manhã quando regressámos à estalagem. Enquanto lavava a cara em frente ao espelho da casa de banho dei por mim a pensar se tudo não tinha passado de um sonho. É que estas coisas só acontecem nos filmes!

1 comentário:

©arloslemos disse...

Ah ah ah ah que risota! A Elisabete já foi vitima desse sr. Amorim. Há largos anos, num fim de semana em Caminha fomos lá jantar encaminhados pelos pais do Pedrão, ele e a Laura, o Camané e a Mafalda e o Gosé e a Ana. Esse gajo foi um cromo. E é como tu dizes: no começo dá vontade de lhe dar uma bofetada pela insolência mas depois acaba por ter piada. E a sinete era a imagem de marca do homem. Quando a tocava dizia: larailariiiii...Bem, mas a tua experiência foi mais enriquecida.