quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Domingo à tarde por cima do M'bridge...

Já contei uma ou duas histórias sobre a minha infância e pré-adolescência em Angola. Vou contar outra.
Em Angola não havia televisão, nem shoppings (oh, que chatice!) nem nada. Daí que o pessoal passasse a vida fora de casa (dentro, por vezes, era um forno) em lancharadas, jantaradas e outras patuscadas. Lembro-me de um gazebo (a palavra em português é coreto?) numa das esplanadas em que se estava e petiscava divinamente, mas depois contarei essa.
O que quero contar agora é outra coisa. Aos domingos a pasmaceira era total. Então, por vezes, à tarde o meu pai levava-me ao aeroporto (Ambrizete tinha duas ruas asfaltadas, mas tinha dois aeroportos - em terra batida, claro) e eu adorava aquele programa cheio de «frisson». Só à vista do cone de vento já ficava arrepiado...
Então, o meu pai alugava uma avioneta e pedia ao piloto para dar umas voltas. Uh, era demais! A pista do aeroporto era curta (daí a construção do novo e segundo aeroporto mas que mal experimentei) e já na descolagem quase me saíam os bofes com as rodas quase a tocarem as copas das árvores gigantescas que bordejam o rio M'bridge.
Depois era o êxtase, com o piloto a fazer voos rasantes (parecia-me, provavelmennte estava a mil metros de altitude) e a pôr em debandada toda a bicharada que se possa imaginar - pacaças (bois selvagens), palancas, antílopes, passarada de todo o género, raça, feitio e cores. Até hipopótamos imóveis no rio se viam. Então a passarada e esvoaçar louca com o ruído da avioneta era qualquer coisa de glorioso...
Bom, se já viram o «África Minha» podem ter uma ideia muito aproximada.
Depois das cabriolas todas enquanto comia umas goiabas refastelado ao lado do piloto e já meio surdo do teco-teco, era o regresso.
Mas lembro-me sempre que nesses domingos à noite estava tão excitado que o sono nunca vinha e eu lá revivia segundo a segundo a aventura como um mini-batedor nos céus de África.
Ainda hoje, por vezes, ao domingo, o sono custa a chegar...

2 comentários:

Óscar disse...

Não há dúvida que és um bom contador de histórias!..
Boa publicação.

Kmett N’Ojo disse...

Qu'inveja!