quinta-feira, 9 de outubro de 2008

2 poemas da minha vida (para amaciar o Óscar)

Não é com o Óscar, é o Óscar e agora cá estão os poemas, não era um trompe l'oeil

Natália Correia
(Fajã de Baixo, S. Miguel, Açores, 1923-1993)

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.


David Mourão-Ferreira
(Lisboa, 1927-1996)

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

10 comentários:

K disse...

A falecida Natália Correia, Deus a tenha no merecido descanço, mas para meu gosto é um tanto áspera.

O igualmente falecido David Mourão-Ferreira faz-me lembrar os anos em que a minha vida profissional era dedicada à selecção clonal das castas de vinha, cuja dificuldade maior consiste em escolher as melhores castas entre as melhores. Ele estaria sem dúvida no lote das castas eleitas.

K disse...

A falecida Natália Correia, Deus a tenha no merecido descanço, mas para meu gosto é um tanto áspera.

O igualmente falecido David Mourão-Ferreira faz-me lembrar os anos em que a minha vida profissional era dedicada à selecção clonal das castas de vinha, cuja dificuldade maior consiste em escolher as melhores castas entre as melhores. Ele estaria sem dúvida no lote das castas eleitas.

K disse...

Ó Labrosca, não te estás a repetir?
Não te esqueças antes da deita da pastilhinha pró Alzeimer.

Anónimo disse...

"Descanço"!!!!!!!!!!!!!!
O que é isso???
Já agora também é "Alzheimer" e não "Alzeimer".

Óscar disse...

A gerência agradece. Excelentes escolhas!

K disse...

Pesso desculpa, o que eu queria dizer era desquanço. E desculpa novamente, porque, ai onde tinha eu a cabessa, era Parquinson, ou para os eruditos Parkinson.
Passava os olhos pelo meu velho dicionário da Editorial Domingos Barreira editado em 15 de Abril de 1946 e comprado pouco depois (é só fazer as contas), e percebi que estou já com alguma idade. Não que a idade desculpe os erros, mas caro anónimo, ou seja, aquele que não assina o que escreve, quando tiveres a minha idade, acredito que entendas o que Fernando Pessoa pensava quando escreveu o seguinte:
Minha varinha, com que da vontade
Falava às existências essenciais,
Já não conhece a minha realidade.
Já, se o círculo traço, não há nada.
Murmura o vento alheio extintos ais,
E ao luar que sobe além dos matagais
Não sou mais do que os bosques ou a estrada.

Anónimo disse...

Meu caro senhor Labrosca
Não sei qual de nós é mais velho, pelo que a afirmação de que "quando chegar à sua idade" compreenderei o que o Fernando Pessoa queria dizer, é gratuita como muitas outras afirmações que faz questão de aqui registar.
Deixe-me dizer-lhe apenas mais duas coisas. A primeira é que se o referido poeta escrevesse com tantos erros, dificilmente estaria a ser citado neste blog; a segunda, é que sou tanto anónimo por não assinar o meu comentário, como o senhor ao assina-lo como "Labrosca" (a menos que esse seja de facto o seu nome).

K disse...

Simpático este senhor.

Tulius Detritus disse...

Não foi, de facto, muito simpático... mas na questão do anonimato... até tem razão...

Vital disse...

Aqui tenho de estar de acordo com o Labrosquinha: uma coisa é um pseudónimo (até porque sabemos quem é a peça) outra é a total desfaçatez do anonimato. E de resto, senhor anónimo, o importante é a rosa, não é a gralha.