Ao longo da vida todos temos encontros mais ou menos engraçados com personalidades famosas da rádio, televisão, disco, etc.
Vou contar um dos meus:
Em Angola não havia televisão (olha que pena) e por isso íamos ao cinema praticamente todos os dias ver fitas de coubóis, guerra ou karaté. De vez em quando lá aparecia um Música no Coração ou um português (ainda mais raro) e praticamente toda a gente se baldava.
Um dia, em 72 ou 73, estreou o filme «O Destino marca a Hora». A sala de cinema era ao ar livre e tinha apenas plateia com cadeiras e bancada de cimento (também tinha campo de futebol de salão entre a cabina e o ecrã). Entre as plateias estava a tribuna - nesse dia estava vazia porque como o filme era tuga tudo se baldou. Assim, mal as luzes se apagaram eu saí da Fila C, lugar 17, e fui sozinho para a tribuna reservada às autoridades. Era o rei.
Fiquei aterrado quando uns minutos após o início do filme (depois das novidades e desenhos animados) vi pelo canto do olho entrar alguém. Oh diabo, apanhado em flagrante na tribuna. E quem era a «autoridade»? Era nem mais nem menos que o protagonista da película e sentou-se - entre a dezena de lugares livres na tribuna -, logo ao meu lado. Era ele: o próprio, o grande Tony de Matos, o grande criador da música romântica: estava no celulóide lá à frente e na cadeira ao meu lado. Fiquei transido: firme e hirto tentei não olhar para o homem. Suava das mãos e respirava desordenadamente: e se ele falasse comigo?. Não falou durante a fita. No intervalo, deu-me uma palmada amigável na perna e perguntou-me: «Estás a gostar»? Balbuciei que sim (na verdade teria preferido o Sartana contra Gringo e assim como assim com o medo nem tinha percebido nada da trama). E ele: «O mais provável é não nos voltarmos a ver, porque eu regresso para a Metrópole, mas se nos virmos, não tenhas vergonha, podes vir falar comigo».
Claro que nunca mais me esqueci do evento mas também nunca mais me lembrei do homem.
No início da década de 90 era eu um valente fuzileiro investigador em Lisboa e numa demanda a casa de fim de semana, quem estava à minha frente na fila a comprar bilhete em Santa Apolónia para vir ao Porto (para uma revista qualquer marada no Sá da Bandeira), já muito velho e quebrado de tanto whisky, tabaco e noitadas.? O Grande Tony. Falei com ele e contei-lhe a história.
Achou piada.
Mas tive pena que não tivesse dito que se recordava perfeitamente daquele miúdo naquela noite num cinema de província em Angola nos idos de 70...
Ei-lo:
3 comentários:
Gostei. Uma história interessante e bem contada.
Ó Vital se queres que te diga, gostei mais desta história que das tuas listas(não leves a mal!). Não sei porquê, nunca estive em Angola, mas talvez por ter ficado com a casa cheia de primos durante uns anitos no pós 25(eramos 12 todos os dias à mesa, ufa...)eles contavam muito da sua vida passada no "Ultramar". Embora não concordasse com eles em alguns temas, sempre ficou no meu imaginário o quão deveria ter sido fantástico aquele sítio para se viver.
Gostei muito...
O Óscar também tem uma história interessante com "alguém" do mundo da música...
Podia partilha-lha aqui...
Fica o desafio.
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