MADRIGAL MELANCÓLICO
O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Mas é o espírito subtil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti é A VIDA!!!
Manoel Bandeira
2 comentários:
Oscar, consegues musicar esta?
Não iria estragar uma coisa tão boa!
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