segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

É preciso ter cuidado!

Eram os anos da faculdade, melhor, das escolas superiores. Por detrás do Palácio da Justiça da Invicta, o estabelecimento de ensino artístico debitava, à saída, altas correrias dos mancebos e mancebas em direcção às paragens de autocarro. Em travessia louca do jardim da Cordoaria, saltando canteiros e sebes, vislumbrei o autocarro que se avizinhava da paragem. Duas faixas separadas constituíam o caminho do transporte e o meu autocarro dirigia-se para a segunda plataforma, ocultada pelo abrigo da primeira plataforma. Ainda no jardim, e em alta correria, deito um olhar de prevenção, não venha um machimbombo pela primeira faixa… nada à vista… entro a atravessar e… PAM… elevo-me no ar ao estilo da modalidade do salto em altura e aterro sentado no capô do táxi preto e verde, deslizo, tal e qual um escorrega, pela tampa comprida do motor do Citroen boca de sapo, e termino em pé ao som, dum coro “ai Jesus, lá se foi o rapaz!" De facto o táxi era bem mais baixo que um autocarro e invisível ao meu olhar de prevenção.

Com o motorista debruçado, imóvel, sobre o volante, a passageira idosa com um arfar de falta de ar, eu julguei que ainda ia ser acusado de um crime! Abeirei-me da janela semi aberta do condutor, e preocupado balbuciei: - O senhor está bem? O senhor está bem? Magoou-se? – silêncio… Estará morto? – pensei. Não, está a respirar… - O senhor está bem? – silêncio. Uns intermináveis dez minutos nisto e eis que o homem afasta-se do volante, mete a primeira e lá vai à vidinha dele, transportando a velhota que ainda não tinha parado de arfar. E eu lá fui, também, à minha vidinha, a pé porque tinha perdido o autocarro e a pensar: - "Pôrra, fui atropelado!”



4 comentários:

Vital disse...

Não conhecia e gostei. Devias era ser multado por interromper o normal fluxo de trânsito. E lá foste para casa com as dorzinhas a fingir que não era nada.

F disse...

As dorzinhas costumam vir dois ou três dias depois!

Deibaidei disse...

... no mínimo levava-te a casa, pois então!

Marial disse...

O que há é muita falta de cuidado... é o que há!!!...

:-)

Muito gira a narrativa!...
(...e ainda bem que o rapaz não se foi!!!...)