domingo, 28 de junho de 2009
Em que café é que paras?
Na última sexta-feira o saudoso Piolho fez 100 anos. Passámos por lá, por volta das onze da noite, para picar o ponto. Um mar de gente distribuía-se em volta do café, entrar era tarefa impossível! Eram várias as gerações presentes no evento enoveladas umas nas outras na penumbra da noite. Deambulámos por entre a multidão tentando ao mesmo tempo descortinar algum rosto conhecido, alguma presença que nos fizesse recuar uns anos no tempo, e perceber o tipo de gente que ocupa actualmente aquele lugar que outrora foi nosso. Pouco depois estacámos numa clareira relembrando episódios antigos e apreciando o ambiente. A pouco e pouco fui-me apercebendo que faltava qualquer coisa naquele happening, algo que mobilizasse as pessoas e desse algum sentido àquele ajuntamento. Grupos de copo de cerveja na mão, alguns empregados atarefados tentando equilibrar travessas cheias de bifes com batatas fritas, alguns acenos e sorrisos e pouco mais. A busca de antigas vivências, porventura o desejo profundo partilhado por muitos dos presentes, não se concretizou. São bem certas as palavras do filósofo: "Não voltarás a banhar-te nas mesmas águas de um rio"...
A vida de café, tal como existia no nosso tempo, está em vias de extinção. Dantes, quando conhecíamos alguém que por alguma razão nos interessava, dirigia-mos a sacramental pergunta: em que café paras? Actualmente as pessoas já não param em lugar algum. Andam, circulam atarefadas num frenesim constante. Comunicam através da net e de sms's mas esqueceram o significado de convivência e de "conversa à mesa do café". É pena, porque perdem uma boa oportunidade de se formarem na escola da vida.
Uma parte do que sou e penso foi construída pelas cadeiras do Piolho, na companhia de amigos e conhecidos de ocasião, em amenas cavaqueiras ou acalorados debates. Como diziam os versos do nosso amigo Gregório, na lápide que ainda perdura nas paredes do café:
O Piolho é mais um departamento, talvez o que cadeiras mais tem
Se o café e a conversa não faltarem basta um dia para fazê-las todas bem.
E se o amor os cientistas experimentarem qualquer laboratório, do Piolho, fica aquém.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Estás a escrever cada vez melhor. Revi-me ao ler o teu post e senti o ambiente daquela noite.
Gostei mais da " Vida de café"... Hoje num tempo de "Novas Oportunidades" a mesa de café é um Bacharelato ... no mínimo!!
Foi bom relembrar a placa do Greg.
Enviar um comentário