Caso da Eluana Englaro (acho que é assim que se chama). Tem o tribunal razão ao permitir que se desligue a máquina que alimenta a jovem? Ou tem o governo, ao impedir a dita decisão? Gostava de ouvir as vossas doutas opiniões...
Sou a favor da eutanásia. Esse é um dos temas que não me suscita grandes dúvidas. Não tenho acompanhado o caso concreto, apenas ouvi falar vagamente dele.
Gostava de ser detentor de certezas tão fáceis como as vossas mas tenho de admitir que este é um dos assuntos em que tenho vacilado constantemente sem me conseguir decidir qual a opinião mais correcta e principalmente, como me sentiria se estivesse nas várias peles. Passo a explicar: a) Se eu estivesse preso a uma cama, tetraplégico e mentalmente são, decidiria com mais ou menos facilidade. Se a isto começar a somar a ideia do meu filho ter de me ver todos os dias e não poder mais andar de bicicleta ou brincar às lutas com ele, então já começava a complicar mais a decisão. Mas ao mesmo tempo, tinha plena consciência de que poderia continuar a ajudá-lo com os deveres da escola, com concelhos e conversas como só nós dois temos. Agora adiciono a minha mulher: devia poder ter outro marido? Mesmo continuando a amar-me? Seria amor ou egoísmo? b) Se por outro lado fosse a minha mulher nesse estado, não a deixaria tomar a decisão sozinha. Eu também me acharia com direito a decisão. Precisaria eu de outra mulher? c) E se fosse o meu filho?! Decidiria da mesma maneira quer tivesse 5 anos ou 25? E se ele tivesse 50 anos e eu 70 ou 80? Sentiria sempre da mesma forma? d) Se por outro lado o caso fosse mais difícil e implicasse sofrimento, eu não permitiria que um filho meu sofresse, fosse qual fosse a sua idade, ponto final mas a decisão não seria só minha. Ele também podia ter filhos, mulher. E a medicina podia não ter uma resposta hoje mas haver esperanças fundamentadas de cura no futuro. Mas… quantos anos tem “o futuro”? Há uma linha de fronteira para o tempo que deve durar a esperança?
E sobre quem recai o poder de decisão? Sobre o próprio? E que idade mínima deverá ter para estar apto a tomar essa decisão? Digamos que se determina (em alguns casos não será assim tão simples) que o estado de saúde mental da pessoa não lhe permite tomar uma decisão, quem decide? O cônjuge? Os pais? E os avós e os irmãos não têm voz? Decide-se por unanimidade ou maioria simples chega? E os votos teriam todos o mesmo peso ou haveria uma “golden share”? O cônjuge mandaria mais que os filhos?
Há sempre um mas que nos dificulta ou mesmo impede de tomar uma decisão que já de si é difícil. Eu ainda não tenho uma resposta. Não sei se algum dia terei.
3 comentários:
A resposta é fácil.
Imagina o teu filho ou filha na mesma situação.Dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano...
Sou a favor da eutanásia. Esse é um dos temas que não me suscita grandes dúvidas. Não tenho acompanhado o caso concreto, apenas ouvi falar vagamente dele.
Gostava de ser detentor de certezas tão fáceis como as vossas mas tenho de admitir que este é um dos assuntos em que tenho vacilado constantemente sem me conseguir decidir qual a opinião mais correcta e principalmente, como me sentiria se estivesse nas várias peles. Passo a explicar:
a) Se eu estivesse preso a uma cama, tetraplégico e mentalmente são, decidiria com mais ou menos facilidade. Se a isto começar a somar a ideia do meu filho ter de me ver todos os dias e não poder mais andar de bicicleta ou brincar às lutas com ele, então já começava a complicar mais a decisão. Mas ao mesmo tempo, tinha plena consciência de que poderia continuar a ajudá-lo com os deveres da escola, com concelhos e conversas como só nós dois temos. Agora adiciono a minha mulher: devia poder ter outro marido? Mesmo continuando a amar-me? Seria amor ou egoísmo?
b) Se por outro lado fosse a minha mulher nesse estado, não a deixaria tomar a decisão sozinha. Eu também me acharia com direito a decisão. Precisaria eu de outra mulher?
c) E se fosse o meu filho?! Decidiria da mesma maneira quer tivesse 5 anos ou 25? E se ele tivesse 50 anos e eu 70 ou 80? Sentiria sempre da mesma forma?
d) Se por outro lado o caso fosse mais difícil e implicasse sofrimento, eu não permitiria que um filho meu sofresse, fosse qual fosse a sua idade, ponto final mas a decisão não seria só minha. Ele também podia ter filhos, mulher. E a medicina podia não ter uma resposta hoje mas haver esperanças fundamentadas de cura no futuro. Mas… quantos anos tem “o futuro”? Há uma linha de fronteira para o tempo que deve durar a esperança?
E sobre quem recai o poder de decisão? Sobre o próprio?
E que idade mínima deverá ter para estar apto a tomar essa decisão?
Digamos que se determina (em alguns casos não será assim tão simples) que o estado de saúde mental da pessoa não lhe permite tomar uma decisão, quem decide? O cônjuge? Os pais? E os avós e os irmãos não têm voz? Decide-se por unanimidade ou maioria simples chega? E os votos teriam todos o mesmo peso ou haveria uma “golden share”? O cônjuge mandaria mais que os filhos?
Há sempre um mas que nos dificulta ou mesmo impede de tomar uma decisão que já de si é difícil.
Eu ainda não tenho uma resposta. Não sei se algum dia terei.
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