Para sair desta tonalidade natalenta, senão ainda me ponho a cantar o gingo belos, vou contar uma história do Algarve (e ele há tantas!):
Numas férias, acampámos pela enésima vez em Lagos, Orbitur e à noite lá íamos à discoteca Eléctrico (linda: toda de branco, bares desafogados e várias pistas).
Numa dessas noites, eu e o meu amigo Óscar desencantámos dois biscoitos loiros e lá fomos cantar a nossa canção do bandido cada um para seu canto. O meu biscoito num inglês duvidoso (ou eu percebia mal: era da música ou era do álcool) foi-me dizendo que era russa e tinha viajado escondida num barco e desembarcado sorrateira (isto largamente antes do Gorby e da queda do Muro).
Toda a aventura vivida pela moça fez redobrar o meu interesse: era muito mais interessante ter uma pirata de leste a bordo ainda com sabor a comunismo na pele (uh, como seria exótico) do que uma deslavada estudante liceal nórdica. E eu spassiba para cá, perestroika para lá, glasnost para aqui, tovarich para ali, lá me fui imiscuindo e aproximando. Aquilo prometia...
Às tantas não aguentei, atravessei a pista e fui contar tudo ao Óscar que continuava o seu trabalhinho de formiga sem massacrar (como era seu timbre) junto do outro biscoito.
E contei de uma forma entre o excitado e o muito excitado: «eh, pá, grandioso, elas são russas, espectacular e tal». O Óscar ria. «É exótico», garantia eu. E o Óscar ria cada vez mais.
Na verdade ia tendo um ataque, riu, riu a bandeiras despregadas e depois lá me explicou que elas não eram nada russas e eu - conquistador de meia tigela - tinha mas era levado uma tanga de duas horas e meia da loira e perdido toda a noite.
Eu mesmo assim não acreditei voltei a atravessar a pista e fui confirmar com a minha «conquista». E ela manteve a história. Era uma refugiada, queria asilo, etc, etc. Continuei a ser toureado de fino e só no final da noite é que me compenetrei (quando todos riam à minha custa) que se tratava afinal de duas suecas classe média que tinham voado para Faro num voo charter, e ali estavam num apartamento marado a gozar a sua semanita de férias.
Não eram afinal as duas russas exóticas perseguidas pelo KGB e a pedir asilo por terem dado o salto da cortina da ferro. Lá se foi o filme na minha cabeça. Foi pena...
E foi pena o Óscar estar lá, porque desmente-me já, senão hoje - criativo como estou -dava um final diferente a esta história...
2 comentários:
Хорошая история
...e eu até que gostava de ler um final diferente prá tua história. O Óscar faz de conta que não lê e se for preciso, até se faz uma votação no blog com finais alternativos!
Enviar um comentário