segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"

4 comentários:

K disse...

Isto sim, é poesia.

Kmett N’Ojo disse...

É verdade, e não é Pessoa!
Leste-me os pensamentos: também queria publicar um poema como pretexto pra desejar a todos um Feliz Natal. Contudo ainda vou dar uma vista de olhos aqui nuns livritos, talvez do Almada. Quem sabe encontro o que procuro.
Feliz Natal Lab!

Vital disse...

Grande Escolha, Reserva 2008, Colheira Especial

Óscar disse...

Boa escolha. Parabéns!