Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa,
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.
O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.
Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.
Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.
Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
Na noite agora fria.
Fernando Pessoa
8 comentários:
Demorei uns bons minutos a ler este poema. É isso que tem a poesia. Por vezes, deixa-nos presos na leitura repetida de pequenas frases que nos vão revelando a pouco e pouco sentidos novos. Este poema é extraordinário. E a minha parte preferida é este final, cheio de pausas que, apesar de estar escrito logo aqui por cima, não resisto a escrevê-lo de novo:
"Que, se quer, e, se veio, se desconhece
Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
Na noite agora fria."
Nunca tinha imaginado o Pessoa em versão "Technicolor"...
Para um apaixonado de Fernando Pessoa, e caso ainda não conheça, aqui vai:
http://multipessoa.net/
e já agora, que tal experimentar o preto e branco? Não se ajustará melhor à estética da poesia pessoana (e não só)?
(pronto, gostos são gostos e...)
Acreditas nf, que sou ligeiramente daltónico?
Como não distingo bem as fronteiras entre o castanho o verde o cinza e o azul, gosto de brincar com esses limites. Um gosto apenas. Sejam estas cores as lâmpadas da minha árvore de Natal. Da minha árvore.
E que diria Alberto Caeiro?
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
Desculpa nf, não te agradeci a sugestão.
Passei por lá e gostei.
Vou explorar.
Alberto Caeiro, volto a dizer, é "excepcionel".
Não me parece bem uma brincadeira com fronteiras entre cores. Por exemplo vermelho, seguido de verde e depois de amarelo parece-me mais uma coisa patriótica.
Acerca do daltonismo aqui vão dois sites onde é possível fazer testes simples e rápidos:
http://www.toledo-bend.com/colorblind/Ishihara.asp
http://colorvisiontesting.com/online%20test.htm
Mas entretanto descobri outra coisa muito interessante, que simula a visão daltónica do vosso blog. Experimentei com os 3 tipos de visão (deuteranope, protanope e tritanope). Aqui vão as simulações:
http://171.64.204.83/uploads/12286585899273/
http://171.64.204.83/uploads/12286587439548/
http://171.64.204.83/uploads/12286581738754/
Pena que nada se possa concluir, uma vez que o "Vischeck" está em desenvolvimento e não consegue lidar ainda com os teus "colorposts".
E Alberto Caeiro a P&B fica (na minha opinião) imensamente melhor, não apenas diferente. Um gosto apenas.
Aceito, NF.
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