domingo, 5 de outubro de 2008

Desculpa, parabéns e um poema (tem paciência, Tullius)

Eu sei, Tullius, uma mensagem de cada vez, mas não dá. Tem paciência:

A DESCULPA vai para o Oscar porque esqueci-me do lançamento do livro e isso é imperdoável. E como penitência vou comprar dois exemplares e ler os dois seguidos.
E mais: vou promovê-lo, anunciá-lo e comprar mais dois em nome de amigos...

Os parabéns vão para o Deibaidei - verdadeiro rabeta no que toca a contribuições para o blogue - mas mestre se o flautismo é dele como creio na música que o Oscar apresentou. É de grande classe.

E agora os poemas:
José Gomes Ferreira
(Porto, 1900-1985)
«Viver sempre também cansa!»

Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

1 comentário:

K disse...

Gostei.
Venham mais destes.