sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Górecki, 1933-2010



O compositor polaco, Henryk Górecki morreu no passado dia 12, em Katowice aos 76 anos, depois de vários anos a lidar com um frágil estado de saúde. O seu trabalho, seguido com admiração junto dos meios melómanos, onde foi reconhecido como um dos mais originais compositores do seu tempo, ganhou reputação junto do grande público com uma gravação da sua Sinfonia nº3, a chamada "Sinfonia das Canções Tristes", ou «das Lamentações» e cuja gravação com a Sinfonieta de Londres e a mezzo soprano Dawn Upshaw valeu em 1991 mais de um milhão de exemplares vendidos.
Nascido em Czernica, na Silésia, a 6 de Dezembro de 1933, Górecki, filho de músicos amadores, tornar-se-ia uma figura fulcral do renascimento da música polaca do pós-Guerra. Apesar do seu precoce interesse em música, Górecki só iniciaria uma verdadeira formação musical aos 19 anos, quando venceu a oposição inicial do pai e da madrasta (a mãe morrera quando tinha dois anos de idade). A sua férrea dedicação, contudo, levou a que completasse em apenas três anos o curso de quatro onde estudou violino, o seu primeiro instrumento, clarinete, piano e teoria musical. Completaria a sua formação na Academia Musical de Katowice, onde se graduou com distinção em 1960.
Católico devoto, procuraria incutir na sua música um sentido espiritual profundo, que atingirá o auge na sua obra mais conhecida, a Sinfonia nº3, construída sobre que um lamento de século XV, as palavras que uma adolescente escreveu nas paredes de uma prisão polaca da Gestapo e uma história do folclore da Silésia, em que uma mãe chora o filho perdido na guerra. Conhecida como "Sinfonia das Canções Tristes", tornaria Górecky um caso raro de sucesso, ainda que o milhão de discos vendidos em 1992 não tenha gerado interesse no restante da sua obra.
No vídeo acima, a soprano canta no segundo movimento um texto da pequena oração escrita por Helena Wanda Błażusiakówna, uma jovem polaca de 18 anos, em 1944, nas paredes de um cela da Gestapo, em Zakopane, na noite anterior à sua execução.

Mamo, nie płacz nie, nie
Niebios Przeczysta Królowo
Ty zawsze wspieraj mnie
Zdrowaś Mario

Mãe, não, não chores,
Casta Rainha dos Céus,
Guarda-me sempre.
Avé Maria.

Comparado a compositores como Olivier Messiaen ou Arvo Pärt pela estrutura musical, pelo temperamento romântico e pelos temas religiosos, Górecky foi também um professor marcante. Não só pela protecção da Academia de Katowice, onde começou a ensinar em 1968, mas também pela sua lendária exigência. Ele que abandonou o seu cargo na Academia em 1979, em protesto pela recusa do regime em acolher uma visita a Katowice do então Papa João Paulo II, costumava reservar um conselho aos seus alunos": Se conseguem viver sem música durante dois ou três dias, então não componham - talvez seja melhor passarem algum tempo com uma rapariga ou à volta de uma cerveja".

Teve noção da importância da sua Sinfonia nº 3 quando disse «talvez as pessoas encontrem algo que necessitam nesta peça de música[...]. De algum modo acertei na nota, foi algo que tinham em falta. Alguma coisa em algum lugar tinham perdido. Senti instintivamente que sabia o que eles queriam».
A obra é dedicada à sua mulher, Jadwiga Ruranska. Quando lhe perguntaram porquê, respondeu: «A quem seria suposto que a devesse dedicar?».

Nota: Peço desculpa por ter cortado esta obra-prima já que o segundo andamento dura mais de nove minutos. É uma obra fundamental em qualquer discoteca pessoal e já agora com a gravação da Sinfonietta de Londres e Dawn Upshaw. Agora, por favor, e parafraseando um crítico, não ponham esta obra-prima como música de fundo acompanhando o brie e o vosso melhor chardonnay.

3 comentários:

Óscar disse...

Ó... já acabou! lindíssimo, foi pena saber a pouco.
Bravo, quando o menino Vital se aplica sai sempre coisa em grande!

K disse...

Gostei.
Brie não digo, mas um autêntico da serra, não com chardonnay mas com um autêntico avesso de Baião, não vejo onde esteja o mal.

Kmett N’Ojo disse...

As coisas q tu sabes continuam a espantar-me after all these years. Mas tenho de dar razão ao Lab.