Os que me conhecem sabem que não sou patriota. Não gosto de Portugal. Nunca gostei. Não pedi para nascer em Portugal e só pelo facto de aqui ter nascido não me faz ter orgulho nisso.
De facto, eu sou japonês, porque se pudesse era ali que teria escolhido nascer.
As razões são as seguintes:
«Não há notícias de pilhagens ou violência. Pelo contrário, supermercados que continuam de portas abertas estão a reduzir os preços, proprietários de máquinas de bebidas estão a distribuí-las gratuitamente. Sem revolta, espera-se horas em filas para ter o que comer. Os sem-abrigo partilham taças de arroz, as viagens de carros de dez horas, rumo ao Norte, fazem-se sem buzinadelas. Supermercados recebem clientes de forma racionada, não se entra sem que alguém saia, e ninguém força a entrada. Há filas para tudo: para comer, pôr gasolina, comprar água, carregar o telemóvel. Filas que ninguem fura. No meio deste caos inédito, a ordem de sempre.
Quando uma equipa de salvação encontrou uma mulher que estava há horas presa sob um armário de livros, a primeira coisa que ela fez foi pedir desculpa pelo incómodo e perguntar se não haveria ninguém, naquele lugar, que fosse mais urgente ajudar. O mesmo com as pessoas transportadas em macas que, mal se levantam, fazem uma pequena vénia a agradecer. Vistos de cima, os centros de acolhimento mostram minúsculas ilhas demarcadas por paredes improvisadas feitas de caixas de cartão, dentro das quais cada família mantém os seus bens arrumados com graça e precisão geomética. Wenceslau de Moraes (1854-1929), sensível cronista do Oriente, ajuda-nos a perceber e explica como a tradição da cortesia vem da cultura de hospitalidade, como 'os indivíduos não contam', como 'o melhor da sua existência é partilhar as alegrias' e como o amor pela Natureza é uma 'fonte de felicidade e consolo'».
Disto eu teria orgulho...
4 comentários:
É, de facto, um exemplo de civilização. A reação desta gente perante tamanha tragédia, sobressaía nas imagens televisivas... e espantava! Um orgulho ser japonês.
Japão 1, Portugal 0
Sim, o Japão convence-me.
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