Carlos Lopes acreditava que estava predestinado a conquistar para Portugal a primeira medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles'84. A prata que conquistara nos 10 000 metros de Montreal 1976 sabia-lhe a pouco, tanto mais que o vencedor, o finlandês Lasse Viren, tinha outros meio que o português nunca utilizou: os estágios de altitude e as transfusões sanguíneas.
Dois anos e meio antes de Los Angeles, Lopes começa a planificar, física e mentalmente, o ataque ao ouro. "Sabia que era a última possibilidade de ser campeão olímpico. Já tinha 37 anos. E eu era uma pessoa que acreditava em mim, tinha um trabalho intensivo para procurar colmatar a falta de ponta final", recorda Lopes. Dúvidas tinham os milhares de portugueses nessa "ponta final" ao recordarem a derrota no Canadá. "Os adversários não me respeitavam... temiam-me ", recorda. Ao contrário do derrotismo nacional, nada demovia Lopes de chegar ao ouro. Isolou-se. Treinou duro, sozinho. Só viajou para os EUA poucos dias antes da maratona. Afastou-se da aldeia olímpica. Mas, 16 dias antes da prova, foi atropelado quando treinava em plena Segunda Circular em Lisboa. "Queria treinar no calor e com poluição. A Segunda Circular é um dos meus percursos de sempre. Quando dou por mim estava a voar após um toque de um Mercedes", recorda. Os portugueses ficaram agarrados aos televisores até às 03.30. Os norte-americanos também, já que tinham apostado em Alberto Salazar para vencer em casa. Terminou em 15.º, desidratado (35 graus, 45 humidade). "Táctica? Não tinha táctica. Só pensava em correr os últimos 5 km em 14 minutos. Bastaram 14.30. Custaram-me mais os primeiros cinco, estava bloqueado, depois libertei-me e utilizei a passada de 1,70 m, uma das três versões que tinha disponível. Aos 37 km arranquei e isolei-me para saborear o final no estádio perante 90 000 espectadores." O cronómetro marcava 2.09.21, recorde olímpico que duraria até Pequim 2008. A mais de meio minuto ficava o irlandês John Tracy.
Aqui está um momento de ouro. Carlos Lopes vence a Maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. 12 de Agosto de 1984. Portugal não dormiu e viu de madrugada um homem simples, franzino, entrar sozinho no Estádio. Em glória.
Quem não chorou não sabe o que perdeu...
1 comentário:
Aaaah! Lembro-me... estava sozinho em casa (a família estava de férias na praia). Munido de umas sandes e uns copos (com suuumooo!), fiquei à frente da tv toda a noite. E na fase final da corrida até me ajoelhei e agarrei a tv com as duas mãos... aaaah que emoção... sim vieram as lágrimas aos olhos!
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