Acho que temos que bater no fundo para recomeçar, penso que a sociedade que construímos está a terminar. Vai ter que se criar uma nova ordem social, uma nova ordem económica, os valores que até há pouco tempo eram deuses... os deuses caíram do altar e escaqueiraram-se. Algumas profissões, como aquelas fantásticas da bolsa em que se trabalhava até aos 35 anos, estão a acabar. Talvez nos tivéssemos afastado demasiado da dimensão humana, ido longe de mais, e estejamos a descer ao real, a voltar a olhar para as pequenas empresas, para a micro-sociedade, para o vizinho do lado, para a criança, para a escola. Neste momento, há uma grande desorientação e desejo de salvar o que está, mas penso que o que está terminou; que temos de construir um novo modelo, mais próximo e mais humano. Talvez este modelo em que vivíamos fosse demasiado desumano.
Simonetta Luz Afonso, Jornal de Negócios, 3 de Abril de 2009
1 comentário:
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Fernando Pessoa
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