Clara Pinto Correia ganhou notoriedade pública e estatuto de escritora com este livro. Mascarado de policial, é na verdade um retrato social bem conseguido do Alentejo de então. «Adeus, Princesa» é sobretudo um romance de personagens, cada uma com uma caracterização que molda a narrativa à volta de um tempo (os anos 80) e de um espaço (o Alentejo).
Morre um alemão de uma base militar perto de Beja. Suspeita-se da sua "semi-namorada", uma jovem filha de um influente chefe do Partido. E um jornalista estagiário com pouco amor próprio é enviado da capital para fazer a reportagem. É no Alentejo que ele se descobre e descobre uma paixão e uma sociedade decadente, resultado dos tempos menos afortunados. E no final, sem o crime completamente esclarecido, sem uma reportagem de boa qualidade, e sem a mulher por quem se apaixonou, a melancolia toma conta dele.
Com personagens bem conseguidas, história simples e atraente e grande caracterização social, é um livro interessante. Apesar da narrativa dar a ideia de andar à volta do crime, tal passa notavelmente para segundo plano à medida que vão entrando outros protagonistas, cada com imagens diferentes do Alentejo e dos seus habitantes. «Adeus, Princesa» pode não ser intemporal, mas é muito interessante. E foi escrito aos 25 anos por uma autora que depois passou pela vergonha do plagiato. Mas em defesa dela, quem hoje em dia não plagia, parafraseia, tergiversa ou contextualiza também não existe.
Fui procurar este livro quando, há muito anos, ouvi na televisão uma história curta de Clara Pinto Correia. Nesse tempo, a tv teve a boa ideia de colocar várias pessoas a narrar uma pequena história para mandar os pequenotes para a cama. A história desta angolana (minha conterrânea, claro!) sobre Luanda e os embondeiros foi fantástica! Depois, comprei o livro. Que não sei onde pára...
Hoje não é fácil encontrar um exemplar. Mas vale a pena.
1 comentário:
A Clara Pinto Correia, minha colega de formação, é uma pessoa fascinante. Tem uma capacidade de trabalho invulgar. No entanto, nestes últimos anos passou-se completamente.
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