"Em todos os poderes humanos existe um ligeiro, delicado e quase imperceptível desprezo por aqueles que dominamos. Só podemos dominar inteiramente almas humanas se conhecemos, compreendemos e desprezamos muito discretamente aqueles que são forçados a render-se". (Sándor Márai)
Tropecei nesta passagem, num livro (brilhante!) que estou actualmente a ler. Ela conduziu-me para um daqueles momentos da nossa vida guardados para sempre: "Só amarei verdadeiramente um homem quando ele me dominar completamente". Isto foi-me dito por uma namoradinha há alguns (muitos!) anos atrás. A frase chocou-me profundamente. Respondi-lhe, prontamente, que então se tinha equivocado quando me escolheu como parceiro. Esta recordação surge-me recorrentemente. De certa forma ajudou-me, na altura, a compreender a essência daquilo que sou verdadeiramente.
Comentando o sucedido com uma amiga, no ano passado, ela explicou-me que o "dominar", naquele contexto, deveria ser antes interpretado como um "estar obcecada por...". A obsessão é um termo que no contexto das relações humanas também me desagrada bastante. Traduz um certo fatalismo doentio inscrito profundamente na cultura portuguesa tantas vezes cantado no fado e que é contrário, na minha opinião, àquilo que deve ser a celebração da vida. Decididamente, eu sou muito mais "Bossa Nova"! Palavras como companheirismo, respeito, partilha, admiração, ternura (passe a lamechice!)... essas sim, fazem parte do meu universo.
4 comentários:
Oscarzinho, meu filho! De certa forma fizeste-me lembrar os 15 anos, quando procurávamos compreender a essência daquilo que somos.
Bom, na verdade uma só palavra pode determinar uma relação entre as gentes. As relações das pessoas dependem do carácter de cada um e sobretudo da palavra. As palavras mal entendidas afastam as pessoas umas das outras, só evitado pela procura do significado dado pela outra parte. Deves ter reparado como a palavra “dona” despoletou um salutar e divertido diálogo entre mim e NF, apenas porque ambos lhe demos sentidos diferentes.
A palavra “dominar” da tua menina não significa que ela quisesse ser dominada como um reles animalzinho, ou que devia estar obcecada pelo gajo. Este “dominar” referia-se talvez à relevância e importância com que o homem teria nos seus sentidos e sentimentos. Se ela sentir falta dele, se sentir necessidade dele, se pensar nele, se se sentir bem com ele, etc. de coisas do género, podemos dizer que ele a “domina”, que ele a preenche. Não é uma acção intencional de ele para ela, mas sim um sentimento de ela para ele…”ele preenche-me, ele é a razão do que sinto, ele domina-me” (cá está).
Pronto, divagações filosóficas fazem sempre bem aos neurónios.
Preenche-me, de acordo! Domina-me... é muito sadomasoquista e doentio para o meu gosto...
Oscar: vou ter de te esclarecer umas coisas sobre cabedal, saltos altos, chicotes, dominação e xixi...
Mas que é que me deu, pá? Devia estar xéxé quando fiz o comentário anterior! Pagininha, deixa-me assistir às tuas lições please...
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