Uma das coisas que mais me encanita são determinadas frases que achamos socialmente correctas. Por exemplo: no Porto é que se trabalha. Outra: no Norte é que se come bem. Outra ainda: as pessoas do Norte (do Porto, em particular) são mais amigas, ou os amigos são mais sinceros. Sinceramente, como é que se pode acreditar e perpetuar estes chaços pelos tempos fora? E com a convicção com que se debitam...
Mas hoje vou dedicar-me a esta: «Somos um povo (país) de brandos costumes». Cá está um macro-chaço. Só diz isto quem não lê um jornal por dia. E sei que muitos não lêem, porque jornais como o Público chegam a tirage´ns inferiores a 20.000. E são jornais nacionais.
Mas se somos um pais de brancos costumes, vou 'ler' apenas alguns títulos do jornal de ontem:
- provedor preocupado com maus tratos a idosos em lares apoiados pelo Estado (reparem: maus tratos... a idosos... em lares... apoiados pelo... Estado. Dava uma tese de doutoramento.
- Casal de feirantes detido por sequestrar e escravizar homem durante seis anos;
- Suspeito de matar o pai à machadada fica em prisão preventiva;
- Degolou a companheira e esperou pela GNR com os filhos no colo;
- Prisão para sexagenário que mata companheira;
- Suspeitos de homicídio em São Brás de Alportel em liberdade;
- Chaves: homicida condenado a 10 anos de prisão;
- Monção: Esfaqueou a mulher na via pública;
- PJ detém 3 suspeitos de homicídio;
- Preventiva para alegado pedófilo;
E assim sucessivamente.
Ao pé disto, sabermos que 50% das baixas são fraudulentas ou que a Câmara do Porto não quer pagar duas vezes as piscinas do Fluvial ou que foi pedida uma auditoria à Junta de Massarelos após demissão do presidente, ou que o Narciso é suspeito de deitar a mão a 50.000 parece uma brincadeira de meninos. E é.
Enfim, são notícias do dia.
Mas como não caiu nenhuma bomba Antónia nos Aliados, continuamos a quê? A achar que até nem somos muito maus, que somos de brandos costumes, que lá fora é que eles são beras como as cobras. Nós por cá, bonzinhos. Como sempre.
1 comentário:
Eh eh... antes de tomar o meu copinho de sangue e comer umas fatias de fígado do vizinho que esquartejei ao pequeno almoço, gosto sempre de dar uma lidinha nos jornais para abrir o apetite.
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