Nuno Crato é o próximo Ministro da Educação. Esta nomeação significa à partida uma verdadeira revolução no mundo da educação em Portugal.
Nos últimos vinte anos vivemos, de uma forma simplificada - para leitores externos ao sistema -, na seguinte situação:
a) teóricos vs. professores e suas práticas
Uma vez que a educação ganhou (talvez erradamente) o estatuto de ciência, numerosos académicos foram produzindo um conjunto de resultados que deram origem às correntes da pedagogia sobre as quais assenta a maioria dos sistemas educativos actuais. Ideias como a escola centrada no aluno, a importância da motivação e da auto-responsabilização, a escolha de metodologias ditas activas, a progressiva responsabilização dos professores na educação integral dos alunos (leia-se educação ambiental, para a saúde, sexual, rodoviária, para a cidadania,...) enchem milhares de páginas de documentos escritos numa linguagem hermética e rebuscada (o dito eduquês).
Na prática, a esmagadora maioria dos professores continua a leccionar as suas aulas segundo o modelo tradicional (tal como acontecia quando eram alunos). Porquê? Porque muita da teoria está desligada do real, porque as novas metodologias foram apresentadas aos professores como dogmas infalíveis e de uma forma pouco aprofundada. O resultado prático foi ver muita da classe docente fugir do eduquês como o diabo da cruz (a não ser no aspecto formal e burocrático - porque não pode ser - como na formulação de competências, objectivos, metas de aprendizagem, gráficos e grelhas, grelhas e mais grelhas (óptimas para assar umas belas sardinhas!).
b) Académicos da área das ciências da educação vs. aqueles que defendem um ensino ascético e rigoroso (?) no qual os alunos estão na escola para aprender e não para se divertir ou para a usufruir. Motivação? Literacia? Cidadania? Gosto por aprender? Não. O que interessa é o esforço, o sacrifício, a disciplina, os exames. (Imagino os pais que estão a ler estas palavras a salivar de satisfação porque são os seus filhos e não eles próprios que estão em jogo!...).
Este grupo do qual o Nuno Crato faz parte, juntamente com o Carlos Fiolhais e uma data de gente ligada por exemplo ao blogue De Rerum Natura chegou ao poder. Vão ter agora a oportunidade de provar a validade das suas ideias (é sempre mais fácil criticar...).
É claro que no meio disto tudo sobram os professores que, no seu todo (os bons, os maus e os assim-assim), saberão mais uma vez adaptar, na medida do possível e espero que com bom senso, as directivas do Ministério da Educação à realidade dos seus alunos.
Falar desta coisada toda da educação, em meia dúzia de palavras, é um desafio excessivo. Pelo menos deu para desabafar e para organizar ideias. O resto...
...É esperar para ver.
3 comentários:
Tens razão quando dizes " é esperar para ver". Prefiro não ter expectativas. Contudo gostei da tua síntese sobre a Educação.
Como sempre o Ami Óscar fala bem...
As tuas ideias estão absolutamente certas.
Estou expectante, não quero pôr foguetes antes da festa.
Haja esperança.
Tenho esperanças... A ver vamos.
Enviar um comentário