A primeira coisa que me dá vontade comentar é o facto de um plebiscito com uma participação de 20% ter qualquer validade. Apetece perguntar se, em vez de 20%, tivessem sido 2%, ou (no absurdo) apenas 1 irlandês que se lembrou de votar, se o destino da Europa deveria depender do “tal irlandês”!!!
A seguir apetecia-me registar aquela posição que nas acaloradas discussões do Monami já foi apelidada de “fascista”, que consiste em questionar a validade, legitimidade, interesse de fazer referendos sobre assuntos relativamente aos quais as pessoas auscultadas não têm a menor noção daquilo que é mais vantajoso para elas ou para o bem comum… na maioria dos casos – estou convencido – não sabem, sequer, o que se está a referendar… mas nem por isso deixam de votar!!!
Que percentagem do nosso povo (votante) terá noção das implicações de um “sim” ou um “não” no que concerne ao “Tratado de Lisboa”?.. Mas todos gostam de dar palpites. Tal como acontece quando há um acidente de automóvel e toda a gente se aproxima para opinar sobre quem recai a responsabilidade da ocorrência…
E não me venham com a treta do esclarecimento público porque isso não passa de mais uma anedota. Tentem explicar à vossa empregada doméstica, algo da vossa área de competência que considerem verdadeiramente complexo (e as implicações do tratado de Lisboa não são simples!) e perceberão melhor o que quero dizer. E no final o voto dela terá o mesmo peso que o vosso!..
Se se referendam questões de ordem moral, filosófica, ética ainda “dou de barato”… (mesmo assim com muitas reservas!), agora questões de índole política ou económica, parece-me verdadeiramente absurdo.
Choca-me brutalmente que a minha empregada doméstica (que é uma senhora extraordinária), o condutor do caterpillar da obra à frente do meu escritório (que berra impropérios audíveis a pelo menos 2 km), ou Sr. Silva (meu sapateiro há mais de 30 anos e excelente profissional) tenham o mesmo “poder de voto” que aqueles que estudaram uma vida inteira matérias que, essas sim, versam os aspectos que permitem decidir com consciência (ainda que mal!) o que se referenda.
Mal comparado, numa empresa (mas, em muitos aspectos, um país deve ser gerido como uma empresa), quem decide o parque de máquinas que se deve comprar é “quem percebe do assunto”; não se fazem assembleias-gerais para se decidir se se compra isto ou aquilo.
Tenho um nível académico e cultural acima da média. Assim mesmo preferia escolher políticos da minha confiança (já sei que não é fácil!..) e deixá-los decidir por mim. Se for essa a forma das decisões não serem tomadas pelos milhões de “emplastros” deste país… é um preço que eu estou disposto a pagar…
PS – Digam lá se esta posição é ou não verdadeiramente digna do Tulius Detritus (original).
5 comentários:
É polémico, sim senhor...
Pois... realmente... quer dizer... mas... que raio... oh Tulius, caraças, lá estás tu a criar confusão e zaragata.
O teu post é de "escacha pessegueiro"!
Os meus comentários são os seguintes:
1)Concordo em absoluto com o primeiro parágrafo;
2)A ideia de termos alguém que pense por nós cheira-me a bafio salazarista;
3)Acerca da legitimidade e do interesse dos referendos apetece-me concordar contigo (na generalidade). Poucos serão os assuntos que merecem ser realmente referendados;
4)Acerca da maior ou menor preparação de um povo para optar, ou decidir, apetece-me citar a velha máxima de Churchill: "A democracia é o pior regime que existe, com a excepção de todos os outros"
Um político, é alguém que está com a predisposição de trabalhar para o bem comum.
Como tal, sacrifica-se dedicando o seu tempo e os seus conhecimentos para criar condições que levem o seu lobi (no bom sentido) a vencer os adversários políticos, porque acredita que o seu grupo político defende os princípios mais adequados para os cidadãos que vivem no, e para o espaço geográfico que ocupam,
Contudo, a ironia de qualquer sistema político, pode ser apresentada com uma redução ao absurdo: poderemos supor um país em que todos acreditam apenas numa ideologia.
Desta forma, esse país atingiria o equilíbrio social.
Mas isto é pura utopia.
A natureza humana não o permite.
A diferença entre os indivíduos, ou dito por outras palavras, a biodiversidade é a única forma de se evitar a extinção ds espécies, mesmo da humana.
Aquele raciocínio é perverso e falacioso. Senão vejamos, 3 ilhas primitivas.Uma das ilhas tem nativos mais activos e com mais visão. Obtêm mais e melhores objectos e trocam-nos com os nativos das outras duas ilhas.Melhoram o seu nível de vida.
Mas, se as outras duas ilhas não tiverem um nível semelhante apesar de mais baixo,estas arrastam o nível potencial de desenvolvimento da melhor ilha, mergulhando as 3 ilhas no nevoeiro do subdesenvolvimento.
Tudo isto para dizer que a democracia não é a solução final, esta, a solução, tem de ser reinventada no dia a dia, com as pequenas coisas que todos nós fazemos, e em especial com aquelas coisas que não fazemos.
Desculpem a minha fixação no fantástico Fernando Pessoa, mas não resisto a partilhar:
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a ação humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.
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