terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Avatar, a evitar...

Respeitando quem no cinema queira valorizar outras coisas e outras verdades e não procurando polémicas eis a minha opinião sobre o filme Avatar, de James Cameron.
Cometi o erro de o ir ver ao cinema (tinha evitado o Titanic, mas então os meus infantes não tinham a persuasão de hoje).

No plano ideológico, Avatar é um manifesto pseudo-revolucionário, uma apologia maniqueísta do terrorismo e uma distorção e simplificação patética da história política da década.
Avatar é um filme grande, mas não é grande coisa como filme. É um filme longo, muito longo, mas, entendamo-nos, não é CINEMA. Há mais cinema em dois minutos de qualquer filme de Ford, Leone, Hawks, Cukor, Wyler, Wilder ou Peckimpah do que nas três horas de pirotecnia tecnológica de Avatar.
É tudo tão básico que chega a ser confrangedor. Os Na'vi são uns índios azulados e patudos com gritinhos de comanche em formato Schtrumpf matulão com umas trancinhas que ligam directamente a caspa à energia vital do planeta Pandora (peles azuis? Pandora?, como isto é inventivo e novo...).
Claro que no início (cinco minutos) falam Na'vi, mas passado um bocado, pronto, já todos falam Inglês. Mas hoje com as actividades de enriquecimento curricular quem é que não fala?
O «teleporte» dos humanos para Na'vi estão ao nível do «Espaço 1999» em que o transportado faz descer uma rede metálica sobre o peito num sarcófago. Bolas!
Depois os humanos são apresentados na sua dicotomia mais básica: de um lado os «bons», liberais, amantes do outro, do indígena, ambientalistas em busca da expiação para os pecados cometidos contra a Mãe-Terra.
Do outro lado, os «grunhos», caricaturas dos militaristas capitalistas (Bushismo no seu melhor) em busca do vil metal precioso (então isto passa-se no futuro e o chefe usa fato e gravata dos anos 90?) e dispostos a queimar tudo e todos por uma jazida mineral que fica debaixo de uma árvore. (Por falar em árvore, então há gravidade e depois há ilhotas rochosas com árvores no ar?).
Escusado será dizer que o herói faz todo o caminho da redenção, desde bronco-looser marine jarhead (uh-ah) paralítico até um absolutamente nature-lover. Num ápice. E tudo por uma moça. Não é lindo o amor inter-racial? (No DVD o amor concretiza-se, aqui não porque senão o limite de idede teria de subir e... os milhões teriam de descer.)
O elemento central do argumento é mesmo a destruição da árvore dos Omaticaya, uma desavergonhada inversão ficcional do ataque terrorista às torres gémeas americanas.
Daí a nada o martírio é a única solução.
Por fim, em Eywa tudo é harmonioso, não há contradições, os animais não se devoram, são todos domesticáveis, (serão comestíveis?) o bem triunfa não sem antes assistirmos ao martírio final da cientista Sigourney Weaver (pouco alienada neste papel, tão iconoclasta que até... fuma!).
Claro que do ponto de vista bélico-redentor, num carnaval de violência assassina e gratuita do pior que vi, de hora e meia, os guerreiros montados em pterodáctilos e com simples flechas dão cabo da esquadrilha aérea dos mauzões armados com... mísseis, ogivas nucleares e o diabo a sete. Ah, mas quanto vale o engenho e a razão de um coração puro...

E pronto, já se fala em sequela.
São produtos deste jaez que proporcionam recordes de bilheteira e formatam de forma simplista a opinião dos milhares de basbaques pueris. E não é que são esses mesmos patetas a matéria-prima manipulável com que se fabricam as grandes catástrofes da História?
Ah e tal, é só um filme. Sim, não não precisa de ser acéfalo.
Nem sequer é um filme para públicos infantis ou juvenis. Podia ser, mas não é. É pretensioso. É uma espécie de pastelão eco-ciber-infantilóide.
Se isto é matéria para óscares (de Hollywood) estamos conversados.
Certamente, não é disto que se fazem os sonhos...

3 comentários:

Kmett N’Ojo disse...

"A não perder. Palavra de Óscar" diz o Óscar.
"É uma espécie de pastelão eco-ciber-infantilóide." dizes tu.
Tenho de ir ver para decidir quem tem razão. Mas desconfio q vou gostar apesar da minha opinião ser suspeita pq sou fã das guerras das estrelas, dos mad maxs, dos matrixs e dos senhores dos aneis. Adoro os Elfos, os Anões e os Orcs mesmo sem fazerem sentido. Vou ver e depois digo-vos o q vi.

Óscar disse...

Já imaginava que não ias gostar. Só gostam do filme aqueles que guardam ainda consigo qualquer coisa de infantiloide, como tu dizes, e que sentem ainda o fascínio das histórias infantojuvenis como por exemplo a Guerra das Estrelas ou O Senhor dos Aneis (dos quais sou um fã incondicional).

Óscar disse...

Em todo o caso deixa-me que te diga que a última frase do post está inspirada. Uma tirada à Vital!