sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Vou votar em branco...

Julgo que nada adianta, mas vou protestar. Poderia desenhar um manguito no boletim, mas sou mau a EVT e por isso vou votar em branco.
Por duas razões já votaria:
Ambiciono um país em líderes.
A presidência é uma instituição arcaica e redundante, desnecessária e que só não acaba porque ninguém tem coragem de dizer que o presidente vai nu… e é tão inútil quanto cara, excepto naturalmente para alimentar e justificar a própria existência.

Por uma terceira razão, porque à excepção de Cavaco, todos os outros candidatos são erros de casting tão crassos e dolorosos que até dão pena.
Mas também não vou votar Cavaco pelo seguinte:
Foi ministro das Finanças quando eu tinha 17 anos. Vai sair da presidência quando eu tiver 53. Ele é a política do balofo, do faz que faz mas não faz. Do sim, não e nim. É sem dúvida a epítome de uma geração perdida.
Mais: é o símbolo de uma determinada forma de ser e de estar, de um estilo, de uma forma de fazer e deixar fazer as coisas que deu no país que 30 anos depois hoje somos. E o país tem exactamente os valores errados. A injustiça, o carreirismo, a corrupção, o triunfo do demérito, etc.
Quando primeiro-ministro esbanjou e deixou esbanjar dinheiro. Desperdiçou e deixou desperdiçar a maior oportunidade de desenvolvimento do País no século XX. E que nunca mais voltará.
Escolheu e determinou um modelo de económico que deixou obra de betão mas não formou pessoas, a nossa ética, a nossa cultura, uma nova forma de fazer. Falhou culturalmente porque errou nas opções. Optou pelo alcatrão quando devia ter optado pelos valores. Não infra-estruturou as cabeças. Não escolheu as sendas correctas. Foi o tempo dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas.
Preparou-se para politicamente ganhar sempre o poder e sempre que o via escapar, fugia. Foi egoísta e carreirista.
Alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme
que já conhecemos.
O Cavaco presidente não tem pensamento político, tem apenas um reportório de frases feitas consensuais porque ocas e vazias. Agarra-se ao cumprimento da Constituição para justificar a sua inoperância. Finge que detesta a política como se a política não fosse o seu ofício de sempre. Finge uma superioridade intelectual quando só vive para a sua agenda (neste caso a reeleição).
Mais uma vez a sua presidência foi uma oportunidade perdida. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que preocupava tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que pariram um rato e uma comunicação surrealista; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. É bota de elástico e refém de uma mentalidade ultrapassada. Tem falta de coragem política porque só está interessado na carreira pessoal. Não é estadista.
Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, só lugares comuns e mesmo assim contrários a tudo o que praticou quando foi primeiro-ministro.
Por último, apresenta-se para fazer mais cinco anos do mesmo. Reparem: não há uma ideia nova, uma cara nova, uma frase nova. Não tem chama, não tem imaginação, não tem rasto e está rodeado dos grupelhos de sempre. Vão ser mais cinco anos do mesmo.
Quando começou na política (e logo com a pasta das Finanças) eu tinha 17 anos e não podia votar. Quando sair da presidência eu terei 53 e já não me apetece votar. Este homem esfíngico, pouco natural, calculista, que foi o político profissional com mais tempo no activo para a nossa geração, continua a fingir que não é o principal responsável pelo estado em que estamos e continua a apresentar-se como alguém superior que paira por cima da política e dos restantes portugueses, como homem providencial. É preciso lata. Por isso não posso votar nele.
Eu ambiciono um país sem líderes. Porque os líderes são sempre isto…

4 comentários:

Óscar disse...

No que diz respeito ao Cavaco apoio a 100%.

Marial disse...

Hummmm... Ao ler este post... Surgiu-me uma ideia!!!
Eu também não sou “famosa” a EVT... mas existe um outro símbolo, que não o manguito, bem mais fácil de ser desenhado, facilmente reconhecido por todos (dado o seu uso generalizado!)... e que traduz a mesma mensagem!!!... :-)
Hummm... É uma ideia!!!... Vou pensar nisso!!!... :-)

Marial disse...

Mas agora a sério!
Se partilho, em grande parte, do desalento e do desencanto referido neste post em relação aos políticos em geral e... em particular... às referências feitas ao actual Presidente da República (embora... para infelicidade de todos nós... ainda há muitos muito piores!!!)... já não posso estar de acordo quanto a ambicionar um país sem líderes!!!

Não é pelo facto de a=>b que se deve concluir que b=>a, isto é:
Não é pelo facto de nos últimos anos os ditos líderes (e digo “ditos líderes”, porque ser líder não é aquilo que os “ditos” têm sido e têm feito!...) serem uma nulidade que devemos concluir que se são uma nulidade então vão ser líderes... logo, obrigada, mas não... não precisamos de nulidades (digo, de líderes)!!!
(confusos??!!!... pois é... isto não é fácil!!!...:-))

Uma nação... assim como uma qualquer instituição ou empresa... sem líder(es) torna-se uma anarquia... e esta é tão má quanto uma ditadura!!!!...

©arloslemos disse...

Um país sem líderes... que bommmmm! E quem mandava era eu... que bommmm...