Acordo de noite subitamente, 
E o meu relógio ocupa a noite toda. 
Não sinto a Natureza lá fora. 
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas. 
Lá fora há um sossego como se nada existisse. 
Só o relógio prossegue o seu ruído. 
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa 
Abafa toda a existência da terra e do céu... 
Quase que me perco a pensar o que isto significa, 
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca, 
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa 
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme 
É a curiosa sensação de encher a noite enorme 
Com a sua pequenez...
   (Alberto Caeiro)
1 comentário:
Obrigado Labrosca por este post.
Nem sempre é fácil fazer a ligação jazz/clássico mas esta está fantástica.
Enviar um comentário