domingo, 5 de julho de 2009

O Senhor dos Aflitos

Hoje é dia de Senhor dos Aflitos, há festa em Valadares. Eu sei que a tradição já não é o que era, actualmente há muita gente que acha pirosas as romarias populares. Nem as gerações mais novas dão grande importância a estas festas: a música é pimba, a maioria das gentes é ... tal e qual a música!.. Os matrecos, para que servem quando comparados aos jogos da PS3?..
Os divertimentos já não divertem ninguém a não ser os mais pequenos, mas esses não têm um sentido crítico muito apurado...

É verdade que eu próprio também já não me entusiasmo como antigamente, no entanto ainda consigo guardar um resquício daquele antigo fascínio.
Adorava, naquele tempo, deambular com os amigos no meio daquela imensa mistura de sons, música e gritaria vinda de tudo quanto era carrocel e carrinhos de choque, e imaginava-me no meio de uma das novelas de Júlio Dinis (é verdade!). Depois eram os matrecos, as garotas, as rifas, o velhote, as bandas de música, o fogo-de-artifício. Tudo isto tinha ainda mais encanto porque normalmente coincidia com uma época em que andávamos realmente (A)flitos com os exames. Então, era assim como que uma escapadela ao inferno dos livros e das preocupações. Enfim, tempos idos! Bons tempos!

À medida que fui crescendo, fui-me entretanto apercebendo de outros pequenos encantos: gentes humildes, da terra ou das fábricas, vestindo os seus melhores fatos, como no dia em que vão votar; os tolos da terra com crucifixos e outras parafrenálias próprias do culto, acompanhando o pároco na procissão (integrados na sua comunidade!); o antigo amigo da escola primária, tornado agora toxicodependente, carregando o andor; pessoas de idade em pose atenta e respeitosa ouvindo as bandas de música tocar... é claro que tudo isto é visto e percebido à luz de um conjunto de vivências que vêm desde a infância e por isso não resultam de um julgamento rigoroso e isento mas... que importância é que isso tem? Afinal, estou tão somente a viajar nos meus afectos!

Hoje é dia de Senhor dos Aflitos. Até quando é que continuaremos a descer a Rua da Igreja enfeitada de luzes, de cheiros, de bêbados, de mancos e de sorrisos?

Sem comentários: