terça-feira, 15 de junho de 2010

Um país improvável


A crise é a palavra de ordem actual. A dívida externa, os riscos de bancarrota, o desemprego, o aumento dos impostos, são continuamente apregoados pelos políticos e pela comunicação social levando os portugueses a acreditar que o nosso país se encontra numa situação especialmente difícil da sua História. Mas será que é mesmo assim?

Reflectia precisamente neste tema enquanto vagueava através da exposição fotográfica Resistência (ver post anterior), que retrata Portugal entre 1891-1974, e recordava passagens do livro que ando actualmente a ler: História de Portugal (Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gonçalo Monteiro).
Apesar de ser o país europeu que definiu mais cedo as suas fronteiras, Portugal sempre foi um PAÍS IMPROVÁVEL. A pobreza dos solos e de outros recursos naturais nunca permitiu uma situação de auto-suficiência em termos alimentares; a independência face a Espanha dependeu inúmeras vezes de conjunturas internacionais complexas que, por desviarem a atenção dos nossos vizinhos, jogaram a nosso favor; a situação económica nunca chegou a ser brilhante (mesmo na época dourada dos descobrimentos); são incontáveis os momentos em que, no referido livro, se lêem as palavras bancarrota, deficit comercial ou aumento de impostos; o desequilíbrio entre as várias regiões do país (leia-se Lisboa face ao resto) é uma constante desde o famigerado reinado de D. Sebastião; golpes de estado, revoluções e contra-revoluções, foram o “pão nosso de cada dia”, especialmente durante o século XIX e inícios do século XX.

Em 1891 o escritor Eça de Queirós desabafava com um amigo: “Portugal acabou. Só o escrever isto faz vir as lágrimas aos olhos – mas para mim é quase certo que a desaparição do reino de Portugal há-de ser a grande tragédia do século”.

E no entanto… aqui estamos! Citando Ricardo Araújo Pereira, “é tempo de reconhecer o mérito e agradecer a governos atrás de governos que fizeram tudo o que era possível para não habituar mal os portugueses. A todos os executivos que mantiveram Portugal em crise desde 1143 até hoje, muito obrigado. Agora, somos o povo da Europa que está mais bem preparado para fazer face às dificuldades.”

2 comentários:

K disse...

Perspectiva animadora.

Vital disse...

O problema é que aqui estamos... como sempre estivemos e... sempre estaremos: pequenos, feios, muito ignorantes, pobres, acomodados, maus, invejosos e egoístas!