terça-feira, 29 de junho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

domingo, 27 de junho de 2010

Porque Hoje é Domingo

E porque a minha vontade era mesmo apanhar um comboio ("A", "B", ou "Z") para qualquer lugar. E não ter de estar por casa a corrigir exames nacionais "ad nauseam"...


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um desejo

Na minha próxima vida, quero viver de trás para a frente. Começar morto, para despachar logo o assunto. Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo. E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer. Por fim, passo nove meses flutuando num "spa" de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois - "Voilá!" - desapareço num orgasmo ...

Woody Allen

Algumas Leis de Murphy












LEIS DA ATRACÃO (COISAS QUE SE ATRAEM SEM ESFORÇO NENHUM):

Olhos e traseiros
Pobre e funk
Mulher e montras
Homem e cerveja
Chifre e duo pimba
Carro de bêbado e poste
Tampa de caneta e orelha
Moeda e bolso de pobre
Tornozelo e pedal de bicicleta
Leite fervendo e fogão limpinho
Político e dinheiro público
Dedinho do pé e ponta de móveis
Camisa branca e ketchup
Tampa de pasta de dentes e ralo de pia
Café preto e toalha branca na mesa
Programa do Herman e controle remoto (Para mudar de canal)
Chuva e carro trancado com a chave dentro
Dor de barriga e final de rolo de papel higiénico
Bebedeira e mulher feia

1- LEIS BÁSICAS DA CIÊNCIA MODERNA:
* Se mexer, pertence à Biologia.
* Se feder, pertence à Química.
* Se não funciona, pertence à Física.
* Se ninguém entende, é Matemática.
* Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
* Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer
sentido, é INFORMÁTICA.

2- LEI DA PROCURA INDIRECTA:
* O modo mais rápido de encontrar uma coisa é procurar outra.
* Sempre se encontra aquilo que não se está à procura.

3- LEI DO TELEMÓVEL:
* Quando te ligam: se tens caneta, não tens papel. Se tiver papel, não
tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
* Quando ligas para números errados de telefone, eles nunca estão
ocupados.
* Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do
chuveiro faz tocar o telefone.

4- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:
* Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve a ninguém,
muito menos a ti...

5- LEI DA GRAVIDADE:
* Se consegues manter a cabeça fria enquanto à tua volta todos a estão
perdendo, provavelmente é porque não estás a entender a gravidade da
situação.

6- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:
* 80% da prova final será baseada na única aula a que não foste e os
outros 20% será baseado no único livro que não leste.

7- LEI DA QUEDA LIVRE:
* Qualquer esforço para agarrar um objecto em queda provoca mais
destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
* A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para
baixo é proporcional ao valor da carpete.

8- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:
* A fila do lado sempre anda mais rápido.
* Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais
rápida.

9- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:
* Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação
do manual.

10- LEI DO PENSO:
* Existem dois tipos de pensos rápidos: o que não agarra e o que não sai.

11- LEI DA VIDA:
* Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
* Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral, engorda ou engravida.

12- LEI DA ATRACÃO DE PARTÍCULAS:
* Toda a partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O dia maior



Foi ontem. E lá estivemos nós na praia, eu e os meus filhotes, celebrando a entrada do Verão com um belo banho nas águas atlânticas - um baptismo frio, mas retemperador. Belos dias se adivinham!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Publicidade de bom gosto...

No Aeroporto de Manchester, a publicidade que intrigou todos!
Imaginem uma solução!!
Como será que o homem está sentado?
(é um bocado óbvio... mas está "giro)...

Saramago e eu...

Por esta altura já todos devem saber que eu sou do contra. E sou contra por exemplo este unanimismo,flatulento, em torno de Saramago, só porque morreu, coisa que, eventualmente, qualquer um de nós conseguirá fazer.
É tudo de um parolismo envergonhante: então vai um avião de carga da Força Aérea com a ministra da cultura lá dentro buscar o féretro? Então o homem pagava os impostos em Espanha, escrevia em Espanha, publicava em Espanha, dizia mal de Portugal por todos os cantos e ainda sou eu e os outros contribuintes a pagar o funeral de estadão. Não há vergonha. E a cobertura televisiva? Não há palavras. Eu digo: os portugueses já têm tudo, menos bom senso.
Eu não gostava da personalidade por várias razões:
- defendia sempre o ponto de vista mais fácil;
- punha as células partidárias ao serviço do seu marketing pessoal;
- era mais vaidoso que uma sevilhana;
- era um autor rebuscado, pouco natural e presunçoso na escrita;
- foi um autocrata que despediu a torto e a direito quando esteve no jornalismo;
- era um esquerdista de letra que se emproava todo com os dourados da burguesia, etc. etc.
- tinha ao seu serviço um marketing tal que recebeu de mão beijada a Casa dos Bicos;
- sabia que num país atrasado e profundamente católico atacando a Igreja tinha a polémica assugurada.
E por aí fora.

Eu na década de 80 (e noventa) também fui influenciado e comprei várias coisas dele. Mais tarde, numa festa do Avante, um amigo num repente encontrou um livro dele numa feira e, vendo-o, entregou-o para o autografar.
Eu, ao lado, tentei o humor, largando esta:
- «Mestre, não se limite a assinar o nome, deixe algo personalizado. Pode valer no futuro e é mais interessante».
Ele, ao lado de Tavares Rodrigues, olhando-me do cimo do seu trono majestático, e numa voz áspera:
- «Está a espera do quê? Que eu faça aqui uma ode pindérica?».
Claro que eu fiquei mudo. Devo ter corado. Envergonhado por esta chicotada. Ele lá assinou o livro com enfado, certamente a pensar que quem estava na Festa do Avante já seria um apaniguado.
Nunca mais comprei nenhum livro dele. Claro.

sábado, 19 de junho de 2010

Kings Of Convenience - Failure

E aqui está de novo uma das minhas mais recentes descobertas no mundo da música. Linhas melódicas simples e belas, arranjos com imenso bom gosto, vozes que se complementam. Um must!

Ainda Saramago...

"Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que a outras deveria pertencer. Assim como a bondade não tem por que se envergonhar de ser bondade, também a justiça não deverá esquecer-se de que é, acima de tudo, restituição, restituição de direitos. Todos eles, começando pelo direito elementar de viver dignamente. Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça"

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago


Saramago morreu. O país ficou mais pobre e vai, como de costume, assistir aos maiores elogios e aplausos àquele que era considerado "a ovelha negra" da nossa cultura. Razão tem o Vital quando fala da infame inveja e da hipocrisia dos portugueses.

"Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras."

José Saramago (As intermitências da morte)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Um país improvável


A crise é a palavra de ordem actual. A dívida externa, os riscos de bancarrota, o desemprego, o aumento dos impostos, são continuamente apregoados pelos políticos e pela comunicação social levando os portugueses a acreditar que o nosso país se encontra numa situação especialmente difícil da sua História. Mas será que é mesmo assim?

Reflectia precisamente neste tema enquanto vagueava através da exposição fotográfica Resistência (ver post anterior), que retrata Portugal entre 1891-1974, e recordava passagens do livro que ando actualmente a ler: História de Portugal (Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gonçalo Monteiro).
Apesar de ser o país europeu que definiu mais cedo as suas fronteiras, Portugal sempre foi um PAÍS IMPROVÁVEL. A pobreza dos solos e de outros recursos naturais nunca permitiu uma situação de auto-suficiência em termos alimentares; a independência face a Espanha dependeu inúmeras vezes de conjunturas internacionais complexas que, por desviarem a atenção dos nossos vizinhos, jogaram a nosso favor; a situação económica nunca chegou a ser brilhante (mesmo na época dourada dos descobrimentos); são incontáveis os momentos em que, no referido livro, se lêem as palavras bancarrota, deficit comercial ou aumento de impostos; o desequilíbrio entre as várias regiões do país (leia-se Lisboa face ao resto) é uma constante desde o famigerado reinado de D. Sebastião; golpes de estado, revoluções e contra-revoluções, foram o “pão nosso de cada dia”, especialmente durante o século XIX e inícios do século XX.

Em 1891 o escritor Eça de Queirós desabafava com um amigo: “Portugal acabou. Só o escrever isto faz vir as lágrimas aos olhos – mas para mim é quase certo que a desaparição do reino de Portugal há-de ser a grande tragédia do século”.

E no entanto… aqui estamos! Citando Ricardo Araújo Pereira, “é tempo de reconhecer o mérito e agradecer a governos atrás de governos que fizeram tudo o que era possível para não habituar mal os portugueses. A todos os executivos que mantiveram Portugal em crise desde 1143 até hoje, muito obrigado. Agora, somos o povo da Europa que está mais bem preparado para fazer face às dificuldades.”

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Resistência


Fui, no 10 de Junho, visitar a exposição de fotografia Resistência, no Centro Português de fotografia (antiga Cadeia da Relação do Porto).

As três centenas de imagens reunidas pertencem a vários arquivos institucionais e particulares (Dgarq, CPF, Assembleia da República, Hemeroteca de Lisboa, Arquivo Histórico-Militar e Fundação Mário Soares, mas também às colecções pessoais de Artur Santos Silva, Mário Marques e Alfredo Ribeiro dos Santos) e testemunham praticamente um século da História portuguesa, desde o 31 de Janeiro até à Revolução dos Cravos. Os comícios, a festa e as figuras da República, o 28 de Maio de 1926 e a primeira tentativa de revolta logo no início do ano seguinte, também no Porto, os anos do Estado Novo e do salazarismo, na sua suposta (e imposta) pacatez e ordem, os movimentos da Resistência, desde as greves dos anos 40 até às campanhas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado, e, claro, o 25 de Abril de 1974 - são as várias estações desta visita guiada.

Sem dúvida um magnífico trabalho o realizado pelos organizadores desta exposição que vai estar aberta ao público até ao próximo dia 5 de Outubro (data da comemoração do centenário da República).

Ver mais aqui

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Música para a alma

"A Junção do Bem" deveria ter sido também a junção do Monami 6f, a convite do Vital,numa massagem colectiva da alma neste concerto musicalmente incomparável. O único que agarrou foi o hagarraky que, com uma lágrima ao canto do olho pela saudade dos amiguinhos, se sentou na plateia, vazia, pelas 21.45h, tendo assim o privilégio de assistir a um bónus de 20 minutos de afinação de instrumentos e acertos nos botões das mesas de mistura. O público entra, mas infelizmente, em muito baixo número para uma sala desta envergadura e para um concerto desta qualidade.
Começa o concerto, começam os arrepios. Como diz Francisco Ribeiro: "A junção do Bem não é um projecto fácil de música convencional. É difícil qualificar o trabalho e fico contentíssimo por isso, porque significa que demonstra originalidade". De facto uma nova sonoridade se ouviu, e o mais surpreendente, de uma orquestra sinfónica. O mote foi dado logo pela primeira interpretação com sonoridades árabes, percorrendo alguns temas a acusar a sua participação nos Madredeus e insinuações fadistas em dueto com Filipa Pais.

Para quem tiver ficado com água na boca, Francisco Ribeiro e a ONP repetirão este concerto no Porto, dia 16 de Julho de 2010, no espaço exterior da casa da Música. Estarei lá e não me façam chorar...

Aqui fica um pequeno registo desta sonoridade original:

Ritual Novo e Obsessão

Francisco Ribeiro | Vídeos de Música do MySpace

Futebol coltoral (?...)

Isto chegou-me à caixa-de-correio enviado pelo Hagarra. Vale a pena partilhá-lo convosco:

João Pinto, ex-jogador do Porto
- "Comigo, ou 'sem-migo', o Porto vai ser campeão!"
- "Sim, estamos felizes porque estamos contentes."
- "Não foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais a mão!"
- "O meu coração só tem uma côr: azul e branco."
- "O meu clube estava a' beira do precipício, mas tomou a decisão correcta: Deu um passo em frente..."

Jardel, ex-jogador do Porto e Sporting
- "Nestes jogos, sobe-me a NAFTALINA!..."
- " Clássico é clássico, e VICE-VERSA..."
- "O difícil, como vocês sabem, não é fácil"

Jaime Pacheco, ex-treinador do Boavista
- "...vamos jogar ao ataque, fechadinhos lá atrás..."
- "Jogar à defesa pode ser uma faca de dois legumes."
- "Querem fazer do Boavista um BODE RESPIRATÓRIO."

Jorge Jesus, ex-treinador do Belenenses e actual treinador do Benfica
- "O processo de NEUTRALIZAÇÃO do jogador pertence ao FORNO interno do clube."

Roger ex-jogador do Benfica
- "Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola."

Rui Barros, ex-jogador do Porto
- "...Vou dar o meu melhor de mim."

Ricardo, ex-jogador do Boavista e do Sporting
- "Quando se leva um pontapé nas canelas ...dói mas não aleija."

Nuno Gomes, Benfica
- "Nós somos humanos como as pessoas"

Derlei, ex-jogador do Porto e Sporting
- "Eu DISCONCORDO com o que você disse."

José Peseiro, ex-treinador do Sporting
- "Não quero estar aqui a numerar nomes."

Barroso ex-jogador do Sporting de Braga
- "Não deu para fazer mais, estou de caganeira!"

Djair, ex-jogador do Belenenses, quando chegou ao Restelo
- "Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu"

Gabriel Alves, RTP
- "Juskowiak a vantagem de ter duas pernas!"
- "É um estádio bonito, moderno, arejado..."
- "A selecção não jogou nem bem nem mal, antes pelo contrario..."
- "Reparem como os jogadores do Bayern movimentam-se descrevendo figuras geométricas....O futebol é uma arte plástica..."
- "Existem muitos jogadores alemães a jogarem no campeonato germânico."
- "Kenneth Anderson, 1 metro e 93 de golo..."
- "Joao Pinto vai centrar para o meio da confusão... mas não está lá ninguém!"
- "Remate rasteiro a meia altura por cima da barra!"
- "E o jogador foi atingido por um objecto lançado provavelmente por algum telespectador."
- "...neste estádio OUVE-SE UM SILÊNCIO ENSURDECEDOR..."
- "Fica na retina um cheiro de bom Futebol."
- "Giggs, um jogador que remata bem do meio-campo para a frente."
- "E aí está uma enorme cavalgada de Thuram... este homem é um leão."

Nuno Luz, SIC
- "Inácio fechou os olhos e olhou para o céu."

José Marinho, SporTV
- "Henry não é um homem... é uma manada!"

Melody Gardot na Casa da Música

Já tinha passado cá pelo blogue. Vai estar na Casa da Música a 6 de Julho. A não perder!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O eterno aqui tão perto...

Castro Verde, 6/4/2009

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo. Mas eu, não. Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven, Cervantes, Shakespeare… Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe!"

Miguel Torga

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pois

Para amenizar as coisas, aqui vão uns humildes exemplos de aproximação ocidente/oriente, em forma de música que mostram como esta arte pode unir mundos tão desavindos.
Na minha opinião, só quando as mulheres forem tidas e admitidas como tendo os mesmos direitos que os homens, alguma coisa poderá mudar no mundo muçulmano.
Mas ccala-te boca, ainda levo com uma fatwa (não sei se se escreve assim).
Vai ser difícil e o caminho longo e árduo, mas não vejo outra solução.
Vou parar por aqui, pois está a ser construído mais um colonato mesmo à frente deste texto e o muro (mais um) que estão a erguer, também não permitem que as minhas palavras o possam transpor.
Estou preocupado com o Irão. Mas Israel já não tem aquelas bombinhas nucleares? Ou já as desmantelou?

Mas vamos à música:



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Promo/convite: Francisco Ribeiro e «Desiderata»

FRANCISCO RIBEIRO com a Orquestra Nacional do Porto e convidados convidam V. Exa. e acompanhante a assistir no dia 9 de Junho, pelas 21H30, à estreia mundial de «Desiderata, a Junção do Bem», no Grande Auditório do Europarque.

Depois de longa carreira ao serviço dos Madredeus em finais dos anos oitenta/inícios de noventa, o violoncelista Francisco Ribeiro decidiu lançar-se a solo com um projecto ambicioso em que procura explorar de forma original temas como o Amor e a Saudade.

«Desiderata, A Junção do Bem» é o nome do projecto/disco gravado na Casa da Música em Setembro último com participações especiais da Orquestra Nacional do Porto, do maestro inglês Mark Stephenson, da cantora esquimó Tanya Tagaq e dos músicos portugueses José Peixoto, Filipa Pais e Natália Casanova.

Como escreveu valter hugo mãe a respeito de «Desiderata, A Junção do Bem»: «mais uma vez a música portuguesa amadurece em esplendor. Francisco Ribeiro é um tesouro nacional. «Desiderata, A Junção do Bem» é a prova de que saber esperar foi saber melhorar, surgindo como um trabalho límpido que casa na perfeição o erudito com a canção, mais a dolência afadistada que tanto nos define intimamente. Havia de haver guarda-jóias grandes próprios para discos assim».

O concerto no Grande Auditório do Europarque marca a estreia de «Desiderata, A Junção do Bem» e os meus amigos estão formalmente convidados, dia 9 de Junho, véspera de feriado, pelas 21H30. É só confirmar na caixinha dos comentários.

Doce melaço

20 motivos contra a ajuda «humanitária»

Como este blogue está mais meloso e melado que um barril de melaço, fui à net roubar e deixo-vos aqui, remando convictamente contra a maré, 20 motivos para ser contra a tão ajudada 'ajuda humanitária', coitadinha... E quem fez as maldades? Os tipos que fazem judiarias... claro!

1. O conflito israelo-palestiniano dura há mais 60 anos. É um conflito de (i)legitimidades. Já morreram milhares de pessoas em guerras, assassinatos, atentados, etc. porque as partes não concordam uma com a outra sobre quem tem direito à terra.

2. O exército israelita mantém um bloqueio militar a Gaza. Pode-se discordar desse bloqueio. O que não se pode é fingir que ele não existe. Também não se pode fingir que esse bloqueio não é parte de uma guerra com 60 anos.

3. O bloqueio visa impedir o abastecimento militar do Hamas. Ser contra o bloqueio não é uma atitude pacifista. É uma defesa do direito do Hamas a fazer a guerra.

4. Também se dispensam as atitudes sonsas de quem diz que a flotilla era uma frota pacífica. A flotilla tinha como objectivo furar um bloqueio militar e contestar o domínio israelita sobre as águas territoriais de Gaza. Isso não é pacifismo. É uma acto de afirmação territorial e um contributo para o esforço de guerra do Hamas.

5. O burburinho mediático que se segue a cada incidente envolvendo Israel nada tem a ver com um desejo de justiça para com as vítimas. O que normalmente os “activistas” anti-Israel fazem é participar no esforço de guerra contra Israel tentando empolar os factos e ajudando os palestinianos a vitimizar-se.

6. Israel e os palestinianos estão em guerra. Na guerra não se aplicam os conceitos de Justiça ou de Direito em tempos de paz. A guerra tem regras próprias. A estratégia de quem combate Israel baseia-se na imposição de um duplo padrão: a Israel aplicam-se os conceitos de justiça e de direito do tempo de paz, aos palestinianos permite-se que sejam avaliados pelos conceitos de direito e de justiça de tempo de guerra.

7. Admira-me que esquerdofilia (Ana Gomes, Miguel Portas, etc.) esteja tão serena. Que se passa? O Manuel Alegre é difícil de digerir?

8. O movimento palestiniano primeiro com o apoio soviético, depois com o apoio da esquerda europeia e islamita sempre foi baseado na dualidade de poder cometer actos de guerra e depois defender-se quando chega a retaliação aplicando as regras dos tempos de paz.

9. Foi uma grande operação propagandística, preparada ao milímetro e coroada de êxito. De parabéns as “espontâneas” e “independentes” manifestações de repúdio, além das redacções dos media multiuso e prontas-a-servir e que, instantaneamente inundaram tudo o que é folha-de-couve circulante e/ou tele-parlante.

10. Os nossos progressistas, se gostam tanto do mundo muçulmano* e das ideologias propaladas pelo Hamas porque é que não vão para lá e se deixam de tertúlias patéticas nos cafés da Europa?
*não se esqueçam de levar os direitos LGBT; a emancipação feminina; e essa chatice que é a Democracia

11. Alguém pode acreditar que uma missão desafie e desobedeça a INSTRUÇÕES CLARAS e REPETIDAS por parte do exército israelita seja uma missão pacifista?

12. Parece-me que se esquecem que era por Gaza que o Hamas teve e tem acesso a armamento, por isso foram destruídos os túneis subterrâneos que os ligavam ao Egipto para obtenção de armamento.

13. Os correios ‘pacifistas’ devem ser inspeccionados; é por essa via que entrava armamento. Naquela frota, cinco acederam à inspecção israelita e um recusou-se, porque seria?

14. Espanta-me que os paladinos da moral, se indignem a ver a tomada do navio ‘activista’ que está ali para aquele efeito especifico - propaganda -, e assobiem para o lado quando um qualquer míssil ou bombista mata famílias inteiras num qualquer centro comercial israelita.

15. O Hamas é pela própria definição do termo uma entidade nazi: um estado totalitário, suportado numa clique no poder, e uma economia subserviente. Israel não é um estado nazi, como é evidente para qualquer observador. É uma democracia liberal com uma forte componente sionista. Isso não desculpa o seu comportamento perante os palestinianos e o facto de os quererem manter num estado de menoridade e miséria. Claro que os dirigentes palestinianos têm ajudado muito, quer roubando o seu próprio povo e o auxílio exterior que lhe é enviado (vide Arafat) quer criando máfias de poder (caso presente). Não entendo como os palestinianos não reconhecem o direito à existência do estado de Israel.

16. Israel instaurou um bloqueio militar. Pode-se concordar ou não mas é a realidade. Existiu uma tentativa de furar esse bloqueio, apesar das tentativas por parte das autoridades israelitas para que o conteúdo dos navios pudesse ser entregue por outras vias, com a supervisão de representantes da tripulação, se necessário. Mas obviamente que o objectivo disto tudo nunca foi levar qualquer tipo de ajuda, mas sim de criar uma situação/provocação que levasse a uma resposta militar.

17. A realidade em que Israel vive consiste num pais democrático rodeado por vizinhos que desejam a sua aniquilação. Aquilo que se tem verificado até hoje por parte destes vizinhos é o financiamento de grupos terroristas em Gaza. Gaza tem aproximadamente 360km quadrados e um milhão e meio de habitantes. Ao longo destas décadas para onde foi todo o dinheiro dado pelo Mundo? Gostava de saber quanto dinheiro já foi despejado pela comunidade internacional numa região tão reduzida, sem que se tenham verificado progressos mínimos na qualidade de vida daquelas pessoas. Será que os israelitas destroem mesmo tudo? Ou são desviados para outros objectivos? Não nos esqueçamos que o actual bloqueio começou em 2007.

18. Os “irmãos muçulmanos” têm sido os piores inimigos da Palestina. Eles NÃO querem que exista uma Palestina livre e autónoma, por diversas razões: se tal acontecesse, perderiam a sua principal justificação para odiar Israel, justificação que serve para esconder o seu ódio ao povo judeu e à existência de um estado democrático na região.

19. Ao longo das últimas décadas, muitos palestinianos têm recebido apoios por parte da comunidade internacional, o que levou ao desenvolvimento de uma “elite”, que reside no estrangeiro. Caso a Palestina se tornasse um Estado viável, muitas destas pessoas provavelmente regressariam, o que poderia levar a uma “ocidentalização”, indesejada pelos vizinhos árabes. Para os vizinhos árabes, quanto pior melhor. Os Palestinianos são vítimas dos seus “irmãos” que os exploram como carne para canhão.

20. Entristece-me ver como o anti-semitismo anda por aí à solta, principalmente pelos lados da ignorância e rápido emprenhamento. E mete-me igualmente impressão ver pessoas que vivem de forma confortável e segura na Europa, a julgar com a maior das facilidades a forma como Israel decide proteger-se de quem quer a sua destruição. Israel é um país democrático que já teve governos de esquerda como de direita, um país onde se é livre e se pode criticar tudo, mesmo estas actuações recentes (vide o caso do Nobel Amos Oz). Independentemente da tendência política dos governos, a solução militar tem-se mantido de forma mais ou menos inalterada. Será que todos os políticos israelitas, independentemente do espectro político a que pertençam, são “nazis-sionistas-belicistas” ou outra idiotice qualquer ou será que tal resulta essa de uma determinação incontornável por parte dos seus inimigos em destruir Israel?

Fico com a esperança que alguns dos meus amigos a partir de agora já não sejam tão céleres a apontar o dedo a Israel. A não ser que concordem com o tio Adolfo: ainda restaram uns quantos badamecos!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Brad Mehldau - difícil é não gostar

Chico Buarque

A (des)propósito de jornalismo à portuguesa, junto um belíssimo tema



Vai a onda
Vem a nuvem
Cai a folha
Quem sopra meu nome?
Raia o dia
Tem sereno
O pai ralha
Meu bem trouxe um perfume?
O meu amigo secreto
Põe meu coração a balançar
Pai, o tempo está virando
Pai, me deixa respirar o vento
Vento

Nem um barco
Nem um peixe
Cai a tarde
Quem sabe meu nome?
Paisagem
Ninguém se mexe
Paira o sol
Meu bem terá ciúme?
Meu namorado erradio
Sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira
Pai, me deixa caminhar ao vento
Vento

Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento
Vento
Vento, vento

Eu e o cigarro (uma relação complicada...)

Imagem daqui
O Homem é um bicho esquisito. Mesmo esquisito. Talvez por que tenha exigências para além daquelas que estão directamente relacionadas com a sobrevivência, esta espécie de mamífero que não se vê como tal vive numa (quase) permanente insatisfação. Se por um lado este sentimento é o motor da criação e do avanço da humanidade, não deixa de ser verdade que causa não poucas vezes sofrimento, angústia e desalento. A procura incessante do prazer, a fuga para a frente, a necessidade de afirmação, a vontade de desligarmos, ainda que temporariamente, do peso daquilo que constitui a percepção da nossa própria existência, leva-nos por vezes a recorrermos a substâncias aditivas (leia-se viciantes) que, no imediato, constituem verdadeiras bengalas de apoio às nossas fragilidades.

Sou fumador. O cigarro ajuda-me em muitos momentos. Dá-me prazer. Mas, a que preço? Estarei verdadeiramente disposto a pagá-lo? As coisas vão sendo menos difíceis enquanto não começarem a surgir as facturas...

Há pessoas que têm esse condão mágico de porém no papel aquilo que vagamente vai nas nossas cabeças, de uma forma ambígua, nebulosa, indefinida e indefinível,e que por essa razão somos incapazes de expressar. Vasco Pulido Valente é um desses exemplos.
Li, há vários anos, numa das suas crónicas do Público, este artigo abaixo publicado. Parece que alguém me andou a sondar o íntimo...

"Viver sem fumar é como escrever sem pontuação. Pelo menos, para mim. A pequena cerimónia de acender um cigarro marca um "tempo": o princípio do dia, o princípio do trabalho, cada intervalo ou cada distracção, o alívio (ou o prazer) de acabar qualquer coisa, o almoço (quando almoço), o jantar (quando janto), o fim do dia, antes de fechar a luz, como um ponto parágrafo. O cigarro divide, acentua, encoraja, consola. Abre e fecha. É uma estação e uma recapitulação. "Já cheguei aqui. Falta ainda isto, isto e aquilo".

Nas poucas vezes que tentei não fumar, tinha um sentimento de desordem, de arbitrariedade, de não saber passar de um frase a outra ou de um capítulo ao capítulo seguinte. Os fumadores, se repararem bem, não fumam ao acaso; fumam com ritmo.O cigarro também é uma companhia. Sobretudo para quem trabalha sozinho. A maior parte das pessoas vai falando, pouco ou muito, durante o trabalho. Por necessidade ou por gozo próprio. Do "serviço" à intriga, há milhares de oportunidades para o grande e simpático exercício de conhecer o próximo: para gostar dele ou para o detestar, para o observar, o comentar ou o intrigar. De porta fechada, à frente de um computador ou de um livro, não há nada à volta. Aí o cigarro ajuda. É um fiel amigo: a pausa que torna o resto tolerável. E que, além disso, recompensa uma boa ideia ou manifesta o entusiasmo ou a execração pelo que se leu. Com quem se pode conversar senão com o cigarro?

De certa maneira, o cigarro substitui a humanidade; e não me obriguem a fazer analogias. Mas, principalmente, fumar serve para pensar. Quando, a ler ou a escrever, paro a meio de uma página, porque me perdi num argumento ou não consigo imaginar como se continua, pego num cigarro e penso. Não me levanto, não me agito, não abro a boca, não me distraio. Fumo e procuro com paciência a asneira. O cigarro concentra e acalma. Restabelece, por assim dizer, a normalidade. E este efeito "normalizador" é com certeza uma das suas maiores virtudes.

Não comecei a fumar para ser adulto ou "viril". Comecei a fumar porque sou horrorosamente tímido e porque o cigarro é com certeza a maior defesa dos tímidos. Primeiro, porque ocupa as mãos e simula um arzinho de à-vontade. E, segundo, porque esconde e protege ou cria a ilusão de que esconde e protege. Por detrás de um cigarro, o mundo parece mais seguro. Mesmo se andam por aí a garantir que não."

Vasco Pulido Valente, Público, 27/6/2008