sábado, 2 de agosto de 2008

Isto não é do Fernando Pessoa:

No cume da minha serra,

Eu plantei uma roseira;

Quanto mais as rosas brotam,

Tanto mais o cume cheira

 

À tarde quando o sol posto,

O vento no cume beija,

Vem travessa borboleta

E as rosas do cume deixa.

 

No tempo das invernias,

Que as plantas do cume lavam,

Quanto mais molhadas eram,

Tanto mais no cume davam

 

Quando cai a chuva fina,

Salpicos no cume caem

Abelhas no cume entram,

Lagartos do cume saem.

 

Mas se as águas vêm correndo,

E o sujo do cume limpam,

Os botões do cume abrem,

As rosas do cume brincam.

 

Tenho com certeza agora,

Que no tempo de tal rega,

Arbusto por mais mimoso,

Plantado no cume pega.

 

E logo que a chuva cessa,

Ao cume leva alegria,

Pois volta a brilhar depressa

O sol que no cume ardia…

À hora de anoitecer,

Tudo no cume escurece.

Pirilampos no cume brilham,

Estrelas no cume aparecem.

 

E quando chega o Verão,

Tudo no cume seca;

O vento o cume limpa,

E o cume fica careca.

 

Vem, porém, o sol brilhante,

E seca logo a catadupa,

O mesmo sol a terra abrasa,

E as águas do cume chupa.

 

As rosas do cume espreitam,

Entre as folhagens d’ além,

Trazidas da fresca brisa,

Os cheiros do cume vêm.

 

E quando chega o Inverno,

A neve no cume cai;

O cume fica tapado,

E ninguém ao cume vai.

 

No cume duma montanha

Tem um olho d’ água à beira:

É uma água tão cheirosa

Que a multidão ansiosa

O olho do cume cheira…

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